O dia amanheceu com o cheiro de pão fresco e o som discreto de músicas natalinas que continuavam preenchendo o ar, como se o tempo tivesse congelado ali, no chalé.
Luna acordou com o sol filtrado pelas cortinas e encontrou Heitor já na cozinha, organizando o café da manhã com um capricho que chamou sua atenção.
— Você está esquisito — ela disse, encostada na porta, o cabelo bagunçado e os olhos ainda sonolentos.
— Como assim?
— Você está nervoso.
— Tô nada.
Ela se aproximou, o encarando de perto.
— Está sim. Você tá batendo a colher na xícara há cinco minutos sem perceber.
Heitor riu, tentando disfarçar.
— Eu só quero que hoje seja um dia bom.
— Está sendo. Mas você tá escondendo alguma coisa de mim.
Admito que já tô acostumada, mas dessa vez você está diferente.
Ele se aproximou e beijou sua testa.
— Confia.
— Você vive dizendo isso.
— E você vive confiando, no fim das contas.
— Porque você nunca mentiu pra mim. Só… omite.
— É porque você gosta de surpresas, mesmo dizendo que não gosta.
Ela riu, aceitando o jogo, mas o olhar permanecia atento, farejando segredos.
O dia seguiu com um passeio leve pela região. Caminharam entre trilhas curtas, tiraram fotos, riram como adolescentes e até pararam para tomar um chocolate quente numa pequena cafeteria.
Luna percebeu que Heitor evitava olhar muito o celular, como se estivesse se obrigando a se manter presente.
Mas, vez ou outra, ela o pegava trocando mensagens rápidas, e o brilho de ansiedade no olhar dele a deixava ainda mais curiosa.
Quando voltaram ao chalé no final da tarde, Luna foi surpreendida por uma pequena mudança no ambiente: a varanda havia sido discretamente decorada com pequenas luzes penduradas e velas espalhadas ao redor de uma mesa simples, onde repousava uma garrafa de vinho que ela adorava.
Ela olhou para Heitor, desconfiada.
— Você montou isso agora?
— Talvez.
— Heitor…
— Senta comigo um pouco.
Luna se aproximou, sentando-se de frente para ele. O céu começava a escurecer devagar, com o pôr do sol tingindo as árvores de laranja e dourado. O som das músicas natalinas seguia discreto ao fundo, como se o Natal estivesse mesmo ali, esperando o momento certo.
— Sabe… — começou Heitor, brincando com a taça de vinho — quando te conheci, eu achava que sabia o que era amor.
— E não sabia?
— Eu achava que era posse. Que era controle. Que era garantir que a pessoa nunca fosse embora.
Luna permaneceu em silêncio, ouvindo com atenção.
— Eu fiz muitas coisas erradas. Fui egoísta. Quis te prender de tantos jeitos… e você me perdoou. E mesmo quando você tinha a chance de ir, você escolheu ficar. Eu nunca vou esquecer isso.
— Eu escolhi porque te amo, Heitor.
Mas você aprendeu a confiar em mim.
Isso… isso é o que mais importa.
Heitor sorriu, os olhos brilhando.
— Eu queria te dar tudo. E no começo, eu tentava dar da forma errada. Mas agora… agora eu só quero te dar o que você quiser. E te ver livre… me ensinou que a única coisa que importa é caminhar ao seu lado. Onde você quiser ir.
O silêncio entre eles ficou denso, carregado de emoção.
Luna abriu a boca para responder, mas foi interrompida quando Heitor se levantou devagar, tirando algo do bolso.
Quando ela viu o pequeno estojo de veludo, seu coração disparou.
— Heitor…
Ele se ajoelhou na frente dela.
A mão levemente trêmula, mas os olhos firmes, apaixonados, vulneráveis como ela nunca tinha visto.
— Eu quero continuar te acompanhando, rindo com você, brigando com você, viajando com você, construindo essa coisa estranha que é a nossa vida juntos. E se um dia você quiser ir, você pode ir. Mas se quiser ficar…
Se quiser ficar, me deixa te chamar de minha esposa.
Ele abriu a caixinha, revelando o anel simples, com o pequeno rubi escondido no interior.
— Luna, você quer se casar comigo?
O tempo pareceu pausar.
Ela o olhou como se quisesse gravar cada detalhe daquela cena: as mãos dele, o tom da voz, o modo como o vento bagunçava um pouco o cabelo, o jeito que ele, finalmente, estava oferecendo… e não impondo.
— Eu não esperava isso — ela sussurrou, sorrindo.
— Eu sei. Eu me esforcei pra você não esperar.
Ela riu, com lágrimas nos olhos.
— Heitor, você ainda é ciumento, ainda é teimoso, ainda quer controlar tudo às vezes…
— Eu estou tentando melhorar.
— E mesmo assim… mesmo com tudo isso…
Eu quero ficar.
Ela estendeu a mão e disse, firme:
— Sim. Eu quero casar com você.
Ele colocou o anel no dedo dela, as mãos ainda tremendo, e se levantou para abraçá-la.
O beijo foi longo, intenso, cheio de tudo o que eles viveram até ali — de tudo o que sobreviveram.
— Um dia nós dois vamos sumir — murmurou Luna, encostando a cabeça no peito dele — mas, até lá, eu quero ficar com você.
Heitor sorriu.
— Eu não quero que você vá nunca.
— Agora é uma escolha, lembra?
— A melhor escolha que você já fez.
— Talvez. Mas você vai ter que me aturar — ela disse, provocando.
— Com prazer.
Ali, sob as luzes da varanda, com o cheiro de vela de canela e a trilha natalina embalando o momento, Luna e Heitor selaram um novo capítulo da história deles.
Dessa vez, por escolha.
Dessa vez, sem trancas.
Dessa vez… para sempre.