Ela Viajou para Dentro Dele: Capítulo 40 – O Pedido

O dia amanheceu com o cheiro de pão fresco e o som discreto de músicas natalinas que continuavam preenchendo o ar, como se o tempo tivesse congelado ali, no chalé.

Luna acordou com o sol filtrado pelas cortinas e encontrou Heitor já na cozinha, organizando o café da manhã com um capricho que chamou sua atenção.

— Você está esquisito — ela disse, encostada na porta, o cabelo bagunçado e os olhos ainda sonolentos.

— Como assim?

— Você está nervoso.

— Tô nada.

Ela se aproximou, o encarando de perto.

— Está sim. Você tá batendo a colher na xícara há cinco minutos sem perceber.

Heitor riu, tentando disfarçar.

— Eu só quero que hoje seja um dia bom.

— Está sendo. Mas você tá escondendo alguma coisa de mim.
Admito que já tô acostumada, mas dessa vez você está diferente.

Ele se aproximou e beijou sua testa.

— Confia.

— Você vive dizendo isso.

— E você vive confiando, no fim das contas.

— Porque você nunca mentiu pra mim. Só… omite.

— É porque você gosta de surpresas, mesmo dizendo que não gosta.

Ela riu, aceitando o jogo, mas o olhar permanecia atento, farejando segredos.

O dia seguiu com um passeio leve pela região. Caminharam entre trilhas curtas, tiraram fotos, riram como adolescentes e até pararam para tomar um chocolate quente numa pequena cafeteria.

Luna percebeu que Heitor evitava olhar muito o celular, como se estivesse se obrigando a se manter presente.
Mas, vez ou outra, ela o pegava trocando mensagens rápidas, e o brilho de ansiedade no olhar dele a deixava ainda mais curiosa.

Quando voltaram ao chalé no final da tarde, Luna foi surpreendida por uma pequena mudança no ambiente: a varanda havia sido discretamente decorada com pequenas luzes penduradas e velas espalhadas ao redor de uma mesa simples, onde repousava uma garrafa de vinho que ela adorava.

Ela olhou para Heitor, desconfiada.

— Você montou isso agora?

— Talvez.

— Heitor…

— Senta comigo um pouco.

Luna se aproximou, sentando-se de frente para ele. O céu começava a escurecer devagar, com o pôr do sol tingindo as árvores de laranja e dourado. O som das músicas natalinas seguia discreto ao fundo, como se o Natal estivesse mesmo ali, esperando o momento certo.

— Sabe… — começou Heitor, brincando com a taça de vinho — quando te conheci, eu achava que sabia o que era amor.

— E não sabia?

— Eu achava que era posse. Que era controle. Que era garantir que a pessoa nunca fosse embora.

Luna permaneceu em silêncio, ouvindo com atenção.

— Eu fiz muitas coisas erradas. Fui egoísta. Quis te prender de tantos jeitos… e você me perdoou. E mesmo quando você tinha a chance de ir, você escolheu ficar. Eu nunca vou esquecer isso.

— Eu escolhi porque te amo, Heitor.
Mas você aprendeu a confiar em mim.
Isso… isso é o que mais importa.

Heitor sorriu, os olhos brilhando.

— Eu queria te dar tudo. E no começo, eu tentava dar da forma errada. Mas agora… agora eu só quero te dar o que você quiser. E te ver livre… me ensinou que a única coisa que importa é caminhar ao seu lado. Onde você quiser ir.

O silêncio entre eles ficou denso, carregado de emoção.

Luna abriu a boca para responder, mas foi interrompida quando Heitor se levantou devagar, tirando algo do bolso.

Quando ela viu o pequeno estojo de veludo, seu coração disparou.

— Heitor…

Ele se ajoelhou na frente dela.
A mão levemente trêmula, mas os olhos firmes, apaixonados, vulneráveis como ela nunca tinha visto.

— Eu quero continuar te acompanhando, rindo com você, brigando com você, viajando com você, construindo essa coisa estranha que é a nossa vida juntos. E se um dia você quiser ir, você pode ir. Mas se quiser ficar…
Se quiser ficar, me deixa te chamar de minha esposa.

Ele abriu a caixinha, revelando o anel simples, com o pequeno rubi escondido no interior.

— Luna, você quer se casar comigo?

O tempo pareceu pausar.

Ela o olhou como se quisesse gravar cada detalhe daquela cena: as mãos dele, o tom da voz, o modo como o vento bagunçava um pouco o cabelo, o jeito que ele, finalmente, estava oferecendo… e não impondo.

— Eu não esperava isso — ela sussurrou, sorrindo.

— Eu sei. Eu me esforcei pra você não esperar.

Ela riu, com lágrimas nos olhos.

— Heitor, você ainda é ciumento, ainda é teimoso, ainda quer controlar tudo às vezes…

— Eu estou tentando melhorar.

— E mesmo assim… mesmo com tudo isso…
Eu quero ficar.

Ela estendeu a mão e disse, firme:

— Sim. Eu quero casar com você.

Ele colocou o anel no dedo dela, as mãos ainda tremendo, e se levantou para abraçá-la.
O beijo foi longo, intenso, cheio de tudo o que eles viveram até ali — de tudo o que sobreviveram.

— Um dia nós dois vamos sumir — murmurou Luna, encostando a cabeça no peito dele — mas, até lá, eu quero ficar com você.

Heitor sorriu.

— Eu não quero que você vá nunca.

— Agora é uma escolha, lembra?

— A melhor escolha que você já fez.

— Talvez. Mas você vai ter que me aturar — ela disse, provocando.

— Com prazer.

Ali, sob as luzes da varanda, com o cheiro de vela de canela e a trilha natalina embalando o momento, Luna e Heitor selaram um novo capítulo da história deles.

Dessa vez, por escolha.
Dessa vez, sem trancas.
Dessa vez… para sempre.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem