Ela Viajou para Dentro Dele: Capítulo 45 – O Retorno

O voo de volta ao Brasil parecia mais silencioso.
Não era tristeza.
Era um tipo de silêncio confortável, aquele que só existe entre duas pessoas que já disseram tudo o que precisavam dizer — e agora só querem sentir.

Luna dormiu boa parte do voo, com a cabeça no ombro de Heitor, os dedos entrelaçados aos dele, respirando tranquila, como quem finalmente havia encontrado o lugar certo.

Quando desembarcaram, as malas rodando na esteira pareciam menos importantes.
Eles tinham trazido muito mais do que lembranças materiais.
Tinham trazido uma nova versão de si mesmos.

A casa os recebeu com cheiro de café fresco e os robôs da Alexa iluminando seus visores como se estivessem dando as boas-vindas.

— Finalmente em casa — Luna suspirou, jogando a mochila no sofá.

— E dessa vez… você volta porque quer — Heitor disse, quase sem pensar.

— Porque eu escolhi. Sempre foi sobre isso, não foi?

— Sempre. Mesmo quando eu demorei para entender.

Durante os dias seguintes, a rotina se ajeitou devagar.

Luna voltou a pintar com mais leveza, se permitiu momentos de descanso, visitou a mãe e aos poucos retomou projetos profissionais.
Heitor, agora mais estável, continuava atento, mas havia aprendido a dar espaço.
O ciúme ainda morava nele, mas não o guiava mais.

Os dois saíam para jantar, riam das pequenas brigas, viviam como se o peso das correntes tivesse finalmente desaparecido.
Quando Luna passava mais tempo focada no trabalho, Heitor a provocava, mas sem pressão.

— Vai me trocar pelas tintas, é isso?

— Vou trocar você por um gingerbread, se continuar me interrompendo — ela dizia, jogando um travesseiro nele.

Mas havia algo diferente agora.
Eles estavam mais… livres.
Mais maduros.

As brigas diminuíram. O controle cedeu lugar à confiança.
E até mesmo os robôs da Alexa pareciam funcionar com menos vigilância, as luzes não acendiam mais a cada passo.
Heitor havia finalmente soltado as amarras.

Um dia, no sofá, assistindo a um filme de Natal, Luna olhou para ele e perguntou:

— Você acha que um dia a gente vai sumir?

Ele sorriu. Aquela frase, que havia atravessado toda a história deles, ainda ecoava.

— Todo mundo some um dia, Luna. Mas a gente pode escolher como vai ser até lá.

— Eu quero que seja leve.

— E intenso.

— E com viagens.

— E com gingerbread?

Ela riu.

— Com muito gingerbread.

O tempo passou como deveria passar.
Eles seguiram construindo uma vida juntos, entre dias simples, pequenas viagens e planos que pareciam fluir com mais harmonia.
Não era mais sobre prender ou fugir.
Não era sobre controlar ou escapar.
Era sobre ficar.
Escolher ficar. Todos os dias.

E Heitor, um homem de silêncios longos e olhos que raramente piscavam, agora piscava muito mais — e sorria muito mais também.

Ele havia entendido que não se trata de fechar portas.
Mas de abrir janelas.

Naquela noite, enquanto fechavam as cortinas da casa, Luna sussurrou uma última vez:

— Um dia nós dois vamos sumir, né?

— É — ele respondeu. — Mas até lá, você fica?

Ela encostou o rosto no peito dele e respondeu, sem hesitação:

— Eu fico.
Eu escolho ficar. Hoje. Amanhã. E depois.
Com você.

E ele a abraçou como quem finalmente havia aprendido a amar sem correntes.

A casa, dessa vez, ficou em silêncio.

A Alexa não piscou.
As portas não estavam trancadas.
As janelas podiam ser abertas.

E eles… simplesmente existiam.
Livres.
Juntos.

E felizes.

Fim.

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