O Primeiro Halloween de Heitor e Luna: Capítulo 5 – O Último Baile

As portas do armazém se fecharam com um estrondo, como se o local tivesse se tornado um cofre.

Luna sentiu o coração acelerar.

Heitor apertou sua mão, olhando ao redor, calculando saídas, movimentos, possibilidades.

A voz do anfitrião mascarado ecoou mais uma vez:
— Sejam bem-vindos ao último baile. Aqui, não buscamos máscaras para esconder, mas para revelar.

A multidão mascarada começou a se movimentar num balé sincronizado.

Não havia conversas, apenas olhares e passos coreografados que pareciam desenhar um círculo em torno de Luna e Heitor.

— O que você quer com a gente? — Heitor gritou, tentando encontrar uma falha no jogo.

— Eu? Eu não quero nada — a figura respondeu, descendo os degraus com calma.

— Quem quer… é ela — ele apontou para Luna.

— Como assim?

— Ela veio por vontade própria. Veio buscar as respostas que você tentou esconder.

— Isso é parte da brincadeira, não é? Você está tentando nos assustar — Heitor acusou, com a voz falhando entre raiva e dúvida.

— Você passou tanto tempo tentando controlar Luna que esqueceu que ela pode desejar outras coisas.

Outros lugares.

Outros jogos.

Luna permaneceu em silêncio, os olhos fixos na máscara vermelha que parecia a observar desde sempre.

O anfitrião continuou:
— Sabe por que você foi convidada, Luna?
Porque você pertence a este baile. Você sempre pertenceu.

Nós te vimos. Na primeira festa, na sua casa.

Você dançou entre as sombras sem medo.

Você ignorou as regras.

E foi assim que nos achamos.

Heitor puxou Luna para trás, como se pudesse protegê-la daquilo que ele próprio não compreendia.

— O que você quer com ela? — ele insistiu.

— Nada. Apenas deixá-la escolher.

Pode sair agora com você.

Voltar para casa.

Viver uma vida tranquila, rotineira.

Ou pode ficar e descobrir quem ela é… além das suas paredes, além do seu controle.

Heitor ficou tenso.

Luna sentiu um calor subir pelo corpo.

— Você está dizendo que… se eu quiser ficar, posso?

— Sim. Nenhum convite foi forçado. Nenhuma porta foi trancada.

— E você? — ela olhou para Heitor. — Você deixaria?

Ele hesitou.

— Eu… Eu quero te levar pra casa, Luna.

Eu quero nossa vida, nossas viagens, nossa bagunça juntos.

Mas se você precisar dançar esse último baile, eu… eu espero.

— Você tem certeza? — ela perguntou, emocionada.

— Eu não gosto disso. Eu odeio isso. Mas você sempre foi livre. Eu só… esqueci disso algumas vezes.

A honestidade dele a quebrou de um jeito novo.

Ela percebeu que ele, de alguma forma, estava mudando.

Mesmo com todo o ciúme, o controle, os medos — ele estava tentando.

O anfitrião sorriu por trás da máscara.

— É raro ver alguém abrir a mão de uma coleira.

Heitor o ignorou.

Ele apenas olhou para Luna, firme.

— O que você quer? Você quer ficar? Quer descobrir o que é isso?

Ou você quer ir pra casa?

Comigo.

Luna respirou fundo.

As músicas sombrias continuavam ao fundo, os mascarados giravam ao redor deles como um turbilhão silencioso.

Ela se aproximou de Heitor, encostou a testa na dele e sussurrou:
— Eu dançaria qualquer baile com você.
Mas esse…

Esse eu prefiro dançar longe daqui.

Os olhos dele se fecharam, aliviados.

— Vamos embora então — ele disse, apertando sua mão.

Luna olhou uma última vez para o anfitrião, que apenas fez um leve aceno de cabeça, respeitando a escolha.

As portas do armazém se abriram sem resistência.

Eles saíram de lá com os corações acelerados, a cabeça cheia de perguntas e a estranha sensação de que o baile… não terminou.

Quando chegaram ao carro, Heitor respirou aliviado, mas ainda nervoso.

— Você tem certeza?

— Tenho. Eu já conheço o suficiente das máscaras.

Eu só quero viver com a minha.

E a minha tem seu nome.

Ele sorriu, puxando-a para um beijo demorado, sentindo o mundo finalmente voltar ao seu eixo.

— Você ainda me deve uma viagem — Luna provocou.

— E você ainda me deve uma dança.

— Sempre.

Enquanto se afastavam, a luz azul da Alexa no carro acendeu sozinha.

— Jogo finalizado.

Eles se entreolharam e riram.

— Você programou isso?

— Não.

Mas desta vez, eles decidiram não se importar.
O mundo lá fora podia esperar.

Eles já estavam dançando o baile que importava.

Juntos.

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