Aclamada como uma das obras-primas dos quadrinhos modernos, Sandman, escrita por Neil Gaiman e publicada pela Vertigo/DC Comics, encantou leitores com sua profundidade filosófica, mitológica e poética. Um dos momentos mais impactantes da série é a morte de Morpheus, o protagonista conhecido como Sonho dos Perpétuos. Mas como exatamente ele morre? E o que isso representa dentro do universo da obra?
Morpheus morre em Sandman?
Sim. Morpheus morre nos quadrinhos de Sandman. Sua morte não ocorre de forma acidental ou banal, mas sim como resultado de uma longa e trágica jornada existencial. Ao longo da série, Morpheus se mostra cada vez mais transformado pelas experiências que viveu — algo perigoso para uma entidade eterna e arquetípica.
Morpheus é o aspecto do Sonho, um dos sete Perpétuos — entidades que personificam forças fundamentais do universo: Destino, Morte, Sonho, Destruição, Desejo, Desespero e Delírio. Ele representa a ordem dos sonhos e das histórias, e sua função é manter o equilíbrio dentro do mundo onírico.
Por que Morpheus morre?
A morte de Morpheus é o clímax de um processo de transformação interior. Ele muda profundamente após os eventos que se desenrolam desde sua prisão por humanos (no arco Prelúdios & Noturnos) até sua tentativa de reparar erros do passado, como o destino trágico de Orfeu, seu filho.
No arco final The Kindly Ones (As Benévolas), os pecados e decisões passadas de Morpheus o alcançam. As Fúrias (as “Bondosas”, figuras mitológicas da vingança) o caçam e exigem sua punição, após o aparente envolvimento dele na morte de seu filho.
Morpheus poderia escapar ou lutar, mas ele aceita seu fim, reconhecendo que não é mais o mesmo e que já não pode continuar sendo o Sonho. Em vez de resistir, ele escolhe ser destruído — um tipo de suicídio simbólico e existencial.
Como Morpheus morre?
Morpheus é destruído pelas Fúrias, em uma cena carregada de simbolismo. Porém, ele havia preparado sua sucessão, garantindo que o Sonho não desaparecesse com ele. Uma nova versão do Sonho já havia começado a se formar: Daniel, uma criança humana que, após um processo místico envolvendo morte, fogo e renascimento, torna-se o novo Senhor dos Sonhos.
O momento é poético: Morpheus se despede de sua irmã, a Morte, e aceita o fim com serenidade. Em seguida, vemos o surgimento de Daniel com aparência semelhante, mas vestes brancas e uma energia mais suave. Ele é a continuação do Sonho — não uma reencarnação, mas uma nova encarnação do aspecto do Sonhar.
Quem é Daniel, o novo Sandman?
Daniel aparece primeiro como filho de Lyta Hall e Hector Hall. Após sua morte e subsequente renascimento no Sonhar, Daniel assume o manto de Sandman com uma postura diferente da de Morpheus: mais gentil, mais aberto às mudanças, mais humano, por assim dizer.
Sua chegada marca uma nova era para o Sonhar, encerrando o ciclo iniciado com Morpheus.
Qual o impacto da morte de Morpheus?
A morte de Morpheus não é apenas o fim de um personagem, mas o encerramento de um ciclo filosófico. Em Sandman, Neil Gaiman trata os Perpétuos como conceitos em constante tensão entre eternidade e mudança. Morpheus representa a rigidez, a responsabilidade, o peso do passado — e sua morte mostra que até ideias eternas precisam ser renovadas.
A série termina com o arco The Wake (O Despertar), no qual os personagens do Sonhar, os Perpétuos e antigos conhecidos de Morpheus se reúnem para velá-lo. É um encerramento comovente, reflexivo e grandioso, que consolida Sandman como uma das narrativas mais maduras e poéticas dos quadrinhos.
A morte de Morpheus em Sandman é mais do que um evento dramático — é um rito de passagem, um manifesto filosófico sobre a transformação inevitável, mesmo para os deuses e entidades imortais. Neil Gaiman constrói um desfecho ousado, coerente e profundamente tocante, encerrando a jornada do Senhor dos Sonhos de forma inesquecível.