À primeira vista, Harry Potter, de J.K. Rowling, e O Labirinto do Fauno, de Guillermo del Toro, parecem obras completamente diferentes.
Uma é uma saga britânica de fantasia repleta de magia e aventuras em uma escola de bruxos; a outra, um conto sombrio e alegórico ambientado na Espanha pós-guerra civil. No entanto, por trás de suas estéticas distintas, ambas compartilham temas profundos, personagens marcantes e estruturas narrativas surpreendentemente semelhantes.
Fuga para o Mundo Mágico
Tanto Harry quanto Ofélia são crianças que vivem em ambientes hostis e opressivos. Harry sofre maus-tratos dos tios Dursley, enquanto Ofélia lida com a doença da mãe e o autoritarismo cruel de seu padrasto, o Capitão Vidal.
Em ambos os casos, a entrada no mundo mágico representa uma fuga emocional e simbólica:
• Harry Potter descobre Hogwarts, um lugar onde ele é valorizado, faz amigos e encontra seu verdadeiro propósito.
• Ofélia, ao entrar no labirinto, é guiada por um fauno e encontra provas mágicas que a afastam — ainda que momentaneamente — da realidade brutal da guerra.
Infância, Resistência e Escolhas Morais
Apesar de serem jovens e vulneráveis, os protagonistas de ambas as histórias demonstram grande força interior. Eles fazem escolhas morais profundas diante da violência e do medo, o que os torna heróis não apenas por suas ações, mas por seus princípios.
• Harry opta por enfrentar Voldemort e aceita o próprio sacrifício para salvar os outros.
• Ofélia se recusa a entregar seu irmão ao fauno, mesmo que isso custe sua vida.
Esses atos de resistência mostram que, mesmo em um mundo onde o mal parece dominar, a pureza e a coragem da infância ainda têm o poder de mudar destinos.
O Bem Contra o Mal
Ambas as obras abordam o eterno conflito entre o bem e o mal, mas de forma complexa e longe do maniqueísmo tradicional. O mal não está apenas nos monstros ou bruxos das trevas, mas também em figuras humanas reais e políticas:
• Voldemort representa a intolerância, o autoritarismo e a obsessão pela pureza de sangue.
• O Capitão Vidal simboliza, a violência sistemática e o controle absoluto.
Esses vilões são derrotados não apenas pela força, mas pela esperança, amizade, compaixão e sacrifício — valores que ambos os protagonistas defendem até o fim.
Criaturas Místicas e o Fantástico Sombrio
As duas obras também compartilham uma estética visual que mistura o mágico com o sombrio. Criaturas que poderiam facilmente habitar o mesmo universo são apresentadas com riqueza de detalhes e significados:
• Harry Potter nos apresenta dragões, trasgos, hipogrifos e dementadores.
• O Labirinto do Fauno traz o Fauno, a mandrágora e o temível Homem Pálido — figuras saídas de pesadelos e contos de fadas antigos.
Esses elementos constroem universos que encantam e assustam ao mesmo tempo, lembrando ao espectador que o mundo mágico também carrega seus perigos e dilemas.
Referências Literárias e Contos de Fadas
Tanto J.K. Rowling quanto Guillermo del Toro foram profundamente influenciados pelos contos de fadas clássicos, mas ambos subvertem suas estruturas:
• Não há “final feliz” garantido.
• O herói pode morrer (e ainda assim vencer).
• O verdadeiro monstro nem sempre tem forma monstruosa.
Além disso, as duas obras fazem críticas sociais e políticas sutis, usando a fantasia como ferramenta para refletir sobre o real — seja falando de guerra, política ou preconceito.
A Magia Como Resistência
Apesar de universos distintos, Harry Potter e O Labirinto do Fauno têm em comum a capacidade de mostrar que a magia, a imaginação e a coragem são formas de resistência em tempos sombrios.
Ambos nos lembram que, mesmo em meio à dor, à guerra ou à opressão, sempre haverá espaço para a esperança — e que, muitas vezes, é a criança que carrega a tocha da verdade em um mundo que insiste em apagar a luz.
Se você é fã de uma dessas obras, vale muito a pena conhecer (ou revisitar) a outra com esse novo olhar. Você vai se surpreender com o quanto elas dialogam — mesmo que, aparentemente, falem línguas diferentes.