A Viagem de Chihiro (título original: Sen to Chihiro no Kamikakushi), dirigido por Hayao Miyazaki e lançado em 2001 pelo Studio Ghibli, é uma das maiores obras-primas da animação mundial. Reconhecido com o Oscar de Melhor Animação, o filme é aclamado por sua riqueza visual, narrativa profunda e simbolismo intenso, conquistando espectadores de todas as idades.
Sinopse
Chihiro Ogino, uma menina de 10 anos, está em processo de mudança com seus pais para uma nova cidade. No caminho, o pai resolve pegar um atalho, levando a família até um túnel misterioso. Ao atravessá-lo, chegam a um vilarejo abandonado, repleto de lojas e banhos termais, embora não haja ninguém por perto. No centro, encontram uma mesa com comida, sem sinal de quem a preparou. Chihiro sente algo errado, mas seus pais começam a comer compulsivamente. Ao anoitecer, o local se transforma e seus pais viram porcos. A partir daí, Chihiro é arrastada para um mundo espiritual cheio de deuses, monstros e criaturas mágicas.
Desesperada, ela conhece Haku, um garoto misterioso que a orienta a fugir antes que a noite acabe. Contudo, ela já está presa: precisa trabalhar na casa de banhos termais comandada pela bruxa Yubaba. Como parte de um acordo, Yubaba retira parte do nome de Chihiro, chamando-a de Sen. Esse ato simboliza a perda de identidade e a submissão à força dominante daquele mundo.
A Viagem de Chihiro é uma obra carregada de significados profundos:
1. Crescimento e amadurecimento
Chihiro inicia sua jornada como uma criança assustada e dependente. Ao longo do filme, enfrenta medos, desafios e dilemas morais, evoluindo para uma figura corajosa, madura e autônoma.
2. Identidade
O nome é central. Ao perder parte dele, Chihiro perde também parte de sua identidade. Recuperá-lo significa reafirmar quem ela é e sua humanidade.
3. Ganância e consumismo
A cena inicial com os pais comendo compulsivamente simboliza a ganância humana. Sem-Rosto representa a voracidade e solidão, enquanto outros personagens do filme refletem diferentes faces do desejo descontrolado.
4. Conexão com a tradição e a natureza
O filme mistura elementos do folclore japonês, espiritualidade e respeito ao meio ambiente. É uma crítica sutil à pressa e ao consumismo do mundo moderno.
O Final Explicado
Após aprender sobre a verdadeira identidade de Haku, Chihiro descobre que ele está ferido após roubar o selo mágico de Zeniba, irmã de Yubaba. Ela decide enfrentar a bruxa Zeniba para devolver o selo, buscando redenção e mostrando compaixão.
De volta à casa de banhos, Yubaba propõe um teste final: identificar quais porcos são seus pais. O desafio é um teste não apenas de percepção, mas de crescimento emocional e entendimento da realidade. Chihiro responde que nenhum deles são seus pais, mostrando clareza, coragem e independência.
Ao vencer o teste, Chihiro recupera seu nome verdadeiro, reafirmando sua identidade. Ela e seus pais atravessam o túnel e retornam ao mundo humano. Seus pais não se lembram do ocorrido, mas Chihiro retorna transformada: mais confiante, madura e pronta para enfrentar o desconhecido.
Há pequenas provas de que a aventura foi real: um elástico dado por Zeniba, folhas cobrindo o carro e a sensação distinta que Chihiro carrega ao voltar. Miyazaki deixa essa ambiguidade para reflexão — o filme pode ser visto como um sonho ou como uma experiência real.
Explorando a fundo
1. Realidade ou sonho?
Pequenos detalhes indicam que a aventura de Chihiro foi real, não apenas imaginada. Miyazaki evita explicações definitivas para manter o elemento mágico e misterioso.
2. Transformação pessoal
Voltar ao mundo humano não significa voltar ao ponto inicial. Chihiro retorna diferente — mais forte, mais consciente e com mais capacidade de enfrentar desafios.
3. Identidade e memória
Recuperar o nome simboliza recuperar a própria essência e resistir a perder-se em forças externas.
4. Sacrifício e despedida
Chihiro deixa para trás amigos e experiências significativas. Crescer exige abrir mão de coisas e pessoas queridas.
A Viagem de Chihiro trás
• Estética única: Cenários detalhados, criaturas fantásticas e uma atmosfera rica em simbolismo.
• Narrativa universal: Apesar de ser profundamente influenciado pelo folclore japonês, fala a todos sobre medo, mudança, coragem e identidade.
• Personagem realista: Chihiro não é uma heroína com poderes mágicos, mas uma criança comum que se transforma através da experiência.
• Ambiguidade: O filme permite múltiplas interpretações, enriquecendo seu significado e deixando espaço para reflexão.