O relógio marcava 7h13 da manhã quando Lucas atravessou os portões do Colégio São Bento, seu velho notebook preto de guerra apertado contra o peito. Seus olhos, meio escondidos atrás da franja, analisavam tudo — professores conversando, alunos bocejando, e o segurança distraído com o celular. Era só mais uma terça-feira, exceto por uma ideia que já fervilhava em sua mente desde a noite anterior.
Lucas não era exatamente popular. Tinha 11 anos, falava pouco, e parecia viver em um universo à parte — um universo de códigos, jogos, e fóruns online. Enquanto os colegas trocavam figurinhas da Copa, ele preferia navegar por tutoriais de programação e desafios de lógica. Na maioria das vezes, passava despercebido. E ele gostava assim.
Na sala de informática, aproveitando a ausência da professora que se atrasara novamente, Lucas agiu. Ligou o notebook, conectou-se à rede da escola — aquela sem nome visível, protegida por senha — e começou a escanear pacotes. Em poucos minutos, usando um software de captura que ele mesmo modificara, decifrou a senha: S@oB3nto2007.
Sorriu de canto. Nada sofisticado.
No intervalo, espalhou a senha como um segredo valioso. Primeiro para a turma do fundo, depois para os do sétimo ano, e logo alguém já estava colando em post-its nos armários: “Wi-Fi liberado! Senha: S@oB3nto2007”. Foi como soltar faísca num campo seco. Em menos de duas horas, metade da escola estava conectada.
Os efeitos foram imediatos: o sistema de chamada caiu, os tablets da biblioteca travaram, e até a diretora teve que adiar uma videoconferência com os pais. A internet da escola colapsou. Os professores andavam de um lado para o outro, desconfiados, enquanto os alunos comemoravam como se fosse um feriado.
Lucas observava tudo de longe, discreto, mas com um brilho divertido nos olhos. Nunca dissera uma palavra sobre o que fizera. Para os colegas, ele era só mais um dos que tinham “descoberto” a senha. Para os adultos, a culpa devia ser da operadora ou de algum bug no sistema. Ninguém suspeitou do garoto silencioso com o notebook sempre no colo.
Ainda.
Mas o caos digital que ele causara era só o começo.