Lucas completara 12 anos há poucas semanas, mas se sentia mais velho. A cada linha de código que escrevia, a cada sistema que decifrava, percebia que o mundo dos adultos era cheio de brechas — e ele estava se tornando um especialista em encontrá-las.
Naquela quarta-feira nublada, chegou à escola com dois minutos de atraso. Dois míseros minutos. O portão ainda estava aberto, alunos ainda entravam, mas a inspetora Vera o parou com um olhar seco e apontou para a ficha de advertências como quem carimba uma sentença. “Regras são regras”, ela disse, indiferente ao fato de Lucas nunca ter tido sequer um atraso antes.
O que irritou Lucas não foi a advertência em si — foi o tom. Foi a injustiça.
Naquela mesma tarde, sentado em seu quarto cercado por telas e cabos, Lucas decidiu que seria ouvido. E quando Lucas decidia algo, não era com gritos ou bilhetes no mural. Era com inteligência, precisão… e um toque de caos silencioso.
Acessar o sistema interno da diretoria foi mais fácil do que esperava. Usaram o mesmo servidor antigo da biblioteca, com um painel administrativo tão mal protegido quanto a senha da rede Wi-Fi meses antes. Em menos de uma hora, Lucas já estava navegando entre registros, planilhas e arquivos de advertência.
Apagou todas as punições dos últimos três meses — não só a dele, mas de todos os alunos. “Um Robin Hood digital outra vez”, pensou, com um leve sorriso.
Mas não parou por aí.
Criou um e-mail anônimo com nome fictício e um domínio estrangeiro, daqueles usados por jornalistas investigativos. Depois, usando suas habilidades em edição e manipulação de dados, forjou prints de conversas entre dois dos diretores. Diálogos ambíguos, com sugestões de favoritismo a alunos específicos e críticas veladas a professores. Nada escandaloso demais — apenas o suficiente para gerar desconfiança. O tipo de coisa que, em mãos erradas, poderia virar fofoca ou denúncia.
Mandou os e-mails para os pais dos dois diretores com um título chamativo:
“Você sabe o que acontece dentro do colégio São Bento?”
Na manhã seguinte, o colégio fervia em silêncio. Os diretores estavam tensos, falando baixo entre si. Chamadas para reuniões urgentes começaram a surgir. A inspetora Vera parecia inquieta, encarando os alunos como se qualquer um pudesse ser o responsável.
Lucas, como sempre, observava tudo com calma, o notebook fechado no colo. Sabia que ninguém jamais o associaria àquilo. Ele não era o tipo de aluno que causava problemas. Era só o garoto quieto do canto, quase invisível.
Mas no fundo, estava lançando um aviso.
Não se brinca com alguém que domina o sistema.
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Código Anônimo