Era hora do intervalo. O pátio fervilhava com vozes, risos, e o som abafado de vídeos do Orkut rodando nos celulares. Lucas caminhava como sempre — sozinho, discreto, com o notebook bem firme entre os braços. Estava acostumado aos olhares, aos cochichos. Mas naquela sexta-feira, algo diferente aconteceu.
Uma das alunas mais chatas do primeiro ano do colegial, apontando para Lucas no meio da roda de amigos.
Risadas explodiram. Algumas tímidas, outras escancaradas. Por um segundo, ele parou. Encarou Júlia sem dizer nada. Depois, baixou os olhos e seguiu seu caminho.
Mas naquele silêncio, algo dentro dele estalou.
Naquela noite, Lucas preparou o que chamava de “plano limpo”. Nada de vírus que se espalham. Nada de rastros. Apenas precisão cirúrgica.
Primeiro, identificou o modelo exato do celular de Júlia através de imagens que ela mesma postava nas redes sociais. Depois, cruzou os dados com redes de compartilhamento de arquivos escolares e, finalmente, obteve o número do IMEI — a identidade única do aparelho. O último passo era o mais complexo: bloquear o IMEI do dispositivo.
Não era um vírus. Era uma sentença.
No sábado pela manhã, o celular de Júlia simplesmente… morreu. Não tinha sinal de rede. Era como se tivesse sido desligado da realidade. Ela tentou de tudo, até levaram à assistência da operadora. Nada.
A resposta dos técnicos foi unânime: o aparelho estava bloqueado.
Na segunda-feira, Júlia apareceu na escola com outro celular, claramente mais simples. E, curiosamente, não falou mais nada sobre Lucas. Nem piadas, nem olhares. Algo havia mudado no ar. Entre os alunos, surgiram rumores de que mexer com ele não era uma boa ideia.
Lucas não comemorou. Não sorriu. Apenas observou. Talvez porque, no fundo, começava a perceber que sua guerra silenciosa estava deixando de ser defesa e se tornando algo mais sombrio. Mais perigoso. Vingança.
Ele era bom. Bom demais. E sabia disso.
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