O laboratório de ciências tinha cheiro de álcool, resina e giz velho. Naquela quinta-feira, a professora Rô da Cidade de Lorena falava animadamente sobre células-tronco, projetando imagens em 3D no datashow. Mas Lucas mal prestava atenção. Sentado na última fileira, ele observava outro aluno — Caio — rindo e cochichando com os colegas, o rosto virado para o celular como se o mundo lá fora não existisse.
Caio tinha se tornado o novo “alvo” de Lucas. Não por raiva, mas por esporte. Lucas se infiltrara no perfil de Caio numa rede social secundária, lera mensagens privadas, espalhara discretas provocações anônimas via e-mail. Nada ofensivo — só o suficiente para gerar desconforto.
Mas naquele dia, algo inesperado aconteceu.
Quando Caio comentou alto sobre uma “mensagem estranha” que havia recebido e riu, a professora Rô o interrompeu e, para surpresa geral, o defendeu. “Esses ataques covardes pela internet precisam acabar”, disse, olhando diretamente para a fileira do fundo. “A escola deve ser um ambiente seguro.”
Lucas sentiu um nó no estômago. Era a primeira vez que alguém o encarava daquela forma. E foi a primeira vez que sentiu algo parecido com… Ódio.
Naquela noite, Lucas agiu como sempre fazia: em silêncio, mas com método. Criou um pequeno cavalo de Troia — um vírus disfarçado, simples à primeira vista, mas eficaz. Chamou-o de “Trojan 4”, uma evolução de um script que já usara em testes antigos. Seu alvo era claro: o computador pessoal da professora Rô.
No dia seguinte, entregou um trabalho em um pendrive. “Está tudo no Word, professora”, disse com voz baixa, mas educada. Rô, ainda sem suspeitar de nada, inseriu o dispositivo em seu computador ao fim do expediente.
Dentro de segundos, os arquivos começaram a ser corrompidos. O vírus fez mais do que isso: vasculhou documentos, fotos e conversas salvas no disco rígido e as embaralhou. Depois, automaticamente, enviou cópias de partes dessas conversas para pastas públicas da rede da escola — tudo orquestrado por Lucas, que observava os rastros de caos se espalhando como fogo em papel seco.
Na manhã de segunda-feira, a escola estava em polvorosa.
Conversas privadas entre professores, inclusive a própria Marta, estavam sendo lidas nos corredores. Supostos comentários sobre alunos, críticas à coordenação e até planos de pedir transferência. A confiança entre a equipe desabou. A rede foi desativada temporariamente e um técnico externo foi chamado às pressas.
Enquanto isso, Lucas observava o resultado como quem assiste a uma experiência bem-sucedida em laboratório.
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