Ela Viajou para Dentro Dele: Capítulo 12 – Partida

Luna passou a manhã deitada no sofá, enrolada no lençol branco como se fosse uma nuvem.
A luz filtrava pelas janelas abertas — pela primeira vez em semanas.

Heitor preparou o café.
Não perguntou nada.
Mas sabia.

Algo se anunciava no silêncio leve dos gestos dela.

Ela só falou depois da segunda xícara:

— Quero viajar.

Heitor parou no meio do movimento.

— Viajar?

Ela assentiu com a cabeça.

— Minha mãe… tô com saudade dela. Ela não entende o que tá acontecendo comigo. E nem eu. Mas… eu queria olhar nos olhos dela. E dizer que eu tô bem.

Heitor respirou fundo.
Sabia que esse dia chegaria.

Mas ainda assim, doía.

— Quando? — perguntou.

— Amanhã.

Silêncio.

Ela se aproximou.
Sentou ao lado dele.
Pegou sua mão.

— Não é uma fuga.
— Eu sei.

— É só… um tempo.
— Eu sei.

Ela sorriu, pela primeira vez com ternura tranquila.

— Eu volto, Heitor.

Ele apertou os dedos dela.

— Eu espero.

O resto do dia foi feito de detalhes.

Ela dobrou suas roupas com cuidado.
Colocou só o necessário na mochila.
Separou o novo caderno, o pincel favorito, a caneta azul.

Heitor assistia tudo em silêncio.
Mas em seus olhos havia algo diferente: confiança.
Medo também — mas coberto por um desejo de respeitar.

Na hora do jantar, Luna cozinhou.

Fez massa com champignons e ervas do jardim.
Serviu dois pratos.
Acendeu uma vela.

— Tô me sentindo dona da casa agora — disse, brincando.

Heitor riu.

— Sempre foi. Só não sabia.

Depois da louça lavada, da mesa limpa e da Alexa em modo noturno, eles se encontraram na sala.
O sofá parecia pequeno demais para os dois.
Ou, talvez, o momento fosse grande demais para o espaço que tinham.

— Você tá com medo de eu ir? — ela perguntou.

— Tô com mais medo de você não querer voltar.

Luna subiu no colo dele.

Sem aviso.

Sem hesitar.

— E se eu voltar com mais sede? — sussurrou no ouvido dele. — Com mais vontade?

Heitor engoliu em seco.

— A casa é sua.
— Não tô falando da casa.

Ela encostou a testa na dele.

— Eu tô falando de mim.

E então o beijo veio.
Não como antes — não como promessa tímida.
Mas como uma confirmação.
De desejo.
De entrega.
De saudade antecipada.

As mãos dela se perderam na nuca dele.
As dele, na cintura dela.
O tempo desacelerou.

Eles dormiram juntos naquela noite como se os corpos já tivessem aprendido um ao outro no escuro.

Como se a carne soubesse que, ao contrário do que dizem, distância não esfria. Apenas aquece o que ainda não queimou.

Na manhã seguinte, Luna saiu com o cabelo preso, mochila nas costas e o controle da casa no bolso.

Heitor a acompanhou até o portão.
Não chorou.
Não sorriu.

Apenas disse:

— Se você demorar muito, eu vou sentir sua falta do mesmo jeito.

Ela o abraçou apertado.

— E se eu não demorar?

— Então vou sentir a sua falta antes mesmo de você sair.

Ela atravessou a rua.
Virou a esquina.
Desapareceu por um momento.

E depois voltou o rosto, apenas para dizer:

— Tenta não trancar tudo dessa vez.
— Não vou.
— Prometo.

Quando ela partiu, a casa ficou em silêncio.
Mas não era mais um silêncio de cárcere.

Era o silêncio de quem espera com o corpo inteiro em brasa.

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