O sol já havia passado do meio do céu quando Luna desceu do ônibus.
Vestia jeans escuro, uma blusa justa que deixava o ombro à mostra e os cabelos soltos — mais longos, mais selvagens.
Trazia uma pequena mochila nas costas e um olhar diferente.
Calmo, mas firme.
Como quem volta por decisão, não por dependência.
Heitor a viu do portão.
Não correu.
Não sorriu de imediato.
Apenas abriu o portão e ficou ali, esperando, como se cada segundo da ausência tivesse sido ensaiado para aquele exato momento.
Quando ela o alcançou, ele disse:
— Você voltou.
Ela respondeu:
— Eu disse que voltaria.
E então o abraço aconteceu.
Não foi demorado.
Não foi desesperado.
Foi firme. Corpo com corpo.
Peito contra peito.
Como se estivessem conferindo se ainda se encaixavam.
E sim. Encaixavam.
A casa parecia outra.
Flores frescas no corredor.
Lençóis novos.
Aromas leves no ar.
Luna sorriu ao entrar.
— Você limpou tudo?
— Quase tudo. Faltava você.
Ela olhou por sobre o ombro, com um sorrisinho enviesado.
— Que piegas.
— Que verdade.
Na cozinha, suco fresco e pão de queijo.
No ateliê, a tela que ela deixara pela metade.
Na estufa, o jasmim florescendo, tímido.
Tudo no lugar.
Mas diferente.
Eles sentaram à mesa, frente a frente.
Conversaram.
Riram.
Ela compartilhou memórias da viagem.
Heitor escutava com atenção.
Com olhos quentes.
Mas havia algo nas entrelinhas.
Algo que ele não dizia.
Mas ela sentia.
Mais tarde, Luna foi tomar banho.
Fechou a porta do banheiro sem trancar.
Deixou a toalha pendurada e tirou a blusa devagar, sabendo que talvez ele escutasse.
Sabendo que talvez a desejasse.
E desejava.
Do outro lado da casa, Heitor fingia ler.
Mas cada gota que batia no chão do banheiro era como um tambor no peito.
Ela estava ali.
Macia.
Molhada.
De volta.
Luna saiu do banho usando apenas uma camiseta longa, sem sutiã.
Os cabelos ainda pingando.
— Tá frio? — ele perguntou, tentando soar casual.
— Um pouco.
— Quer um cobertor?
— Não. Quero você.
Foi assim.
Direta.
Sem joguinhos.
Sem meias palavras.
Ela cruzou a sala.
Sentou no colo dele.
Segurou o rosto dele com as duas mãos.
— Eu pensei em você todas as noites.
— Eu imaginei você em todas as paredes da casa.
O beijo veio forte.
Mas lento.
Como se retomassem algo que ficou interrompido.
As mãos dele desceram pela cintura dela.
As dela subiram pela nuca dele.
Ele a deitou no sofá.
Os corpos se moldaram com uma naturalidade inquietante.
Ela sussurrou:
— Você quer me ter?
— Eu quero que você me tome.
E ele fez.
Sem pressa.
Sem urgência.
Como quem descobre um segredo antigo.
Tocou cada parte dela como quem lê um livro proibido.
Beijou entre os seios, a barriga, a curva do quadril.
Explorou.
Sentiu.
Deixou-se levar.
Ela retribuiu.
Com unhas que riscaram o peito dele.
Com olhos abertos, fixos nos dele.
Era mais do que desejo.
Era reencontro.
Era fome que aprendeu a esperar.
E quando os corpos se fundiram, não houve grito.
Só respiração acelerada.
Suor.
Cama desfeita.
Certeza.
Depois, deitada sobre ele, com a respiração desacelerando, Luna disse:
— Agora sim, essa casa tem meu cheiro de novo.
Ele riu, cansado e cheio.
— E o meu?
— O seu sempre ficou em mim.
Silêncio.
Ele tocou os cabelos dela, ainda úmidos.
— Vai querer sair de novo?
— Sim.
— Quando?
Ela sorriu.
— Quando der vontade. Mas agora… só quero ficar.
E pela primeira vez, a casa dormiu inteira.
Sem sensores ativados.
Sem Alexa sussurrando comandos.
Sem portas trancadas.
Porque o que estava preso agora não era o corpo.
Era o vínculo.
Era a vontade de pertencer.
E essa… não se controla.