Na manhã seguinte, Luna acordou com a cabeça no peito de Heitor, ouvindo os batimentos dele como se fossem música.
Mas o que a hipnotizava de verdade eram as veias.
Grossas, saltadas, vivas — especialmente no pescoço e nos braços.
Ela traçava o caminho delas com os dedos, lenta e silenciosamente, como se seguisse um mapa proibido.
Heitor abriu os olhos, sentindo o toque.
— Tá desenhando em mim?
— Tô mapeando.
— Vai me usar pra pintar?
— Talvez.
Ou… pra morder.
Ele riu, ainda sonolento.
— Morder?
— Já te disse… sou meio vampirinha.
Não de sangue.
Mas de pulsação.
De carne quente.
De corpos que tremem.
— E você acha que eu tremo?
— Acho que você treme mais do que admite.
Ela se inclinou e encostou os lábios no pescoço dele.
A veia saltava.
E o coração acelerava, bem debaixo da pele.
— Morde, então — ele disse.
— Tem certeza?
— Tenho.
E ela mordeu.
Na medida certa.
Não deixou marca visível.
Mas deixou desejo.
Mais tarde, estavam na estufa.
Luna com um chá gelado na mão, Heitor com uma camisa de botões aberta até o meio do peito.
— A gente precisa conversar — ela disse.
— Isso é sério?
— É sobre nós. Sobre… o que vem agora.
Heitor endireitou o corpo.
— Vai me dar bronca?
— Vou te dar regras.
— Uau. Já virou ditadora?
— Liberdade também precisa de ordem, Heitor. Mas do meu jeito.
Ele assentiu, curioso.
— Manda.
— Regra número um: eu entro e saio quando quiser. Sem cobrança.
— Certo.
— Regra número dois: você não pergunta com quem eu falo, nem por quê. Se eu quiser contar, eu conto.
O silêncio caiu como um peso.
Heitor franziu o cenho.
— Essa eu não aceito.
— Como assim?
— Não vou fingir que sou evoluído a esse ponto. Se você falar com alguém e não quiser me dizer quem é, isso vai me deixar bravo.
— Não é questão de esconder. É de não ter que justificar tudo.
— E eu não sou qualquer um, Luna.
Você entrou na minha casa. Deixou seu cheiro em todos os cômodos. Fez morada em mim.
Então sim — eu vou querer saber com quem você gasta seu tempo quando você não tá aqui.
Ela cruzou os braços.
— E se eu disser que isso me sufoca?
— Então a gente precisa encontrar um meio-termo.
Mas não me peça pra ser cego.
O olhar dela suavizou um pouco.
— Tá. E qual seria esse meio-termo?
— Você pode falar com quem quiser. Mas eu vou saber de tudo e se alguém mexer com você… você me avisa. Não me esconda.
Ela pensou.
Longamente.
Depois assentiu.
— Ok. Regra dois, reescrita.
— Melhor assim.
— Regra número três: eu fico. Mas não sou posse sua.
— Isso eu já aprendi, mesmo não gostando.
Ela se levantou, caminhou até ele e sentou no colo dele, com as pernas ao redor da cintura.
— Em troca… você tem tudo isso aqui. — Pegou a mão dele e a levou até o próprio pescoço. — Corpo, vontade, fogo. Exclusivos. Mas não sob contrato. Sob desejo.
— E se um dia o desejo acabar?
Ela sorriu, inclinando-se para perto do ouvido dele.
— Aí eu vou embora sem avisar.
Heitor segurou firme em sua cintura.
— E até lá?
— Até lá… me tem inteira. Com dentes, sede e tudo mais.
À noite, os dois foram pra cama mais cedo.
Mas não pra dormir.
Luna, com apenas uma regata fina e calcinha preta, dançava sozinha no quarto, os cabelos soltos, os olhos semicerrados.
Heitor a observava, deitado, corpo nu sob o lençol.
Ela se aproximou.
Se deitou sobre ele.
E, mais uma vez, mordeu o pescoço.
Dessa vez, com mais força.
— Eita, assim fica a marca.
— É pra isso mesmo.
Ela o tomou devagar.
Subiu, desceu, cravou as unhas.
Fez do corpo dele o seu altar.
E quando os dois explodiram juntos, foi sem medo.
Sem contenção.
Ela sussurrou:
— Eu tô aqui porque quero. Mas se você quiser me prender… que seja com beijo. Com suor. Com pulso.
E ele respondeu, arfando:
— Você é minha vampirinha. E eu… sou seu sangue.
Na madrugada, deitados de lado, entrelaçados, ela perguntou:
— E se um dia eu sumir?
— Eu sigo seu rastro pelas mordidas que você deixou em mim.
Ela sorriu no escuro.
— Inteligente. E um pouco doente.
— Louco por você, Luna. Sempre fui.
E o sono veio pesado.
Mas leve.
Porque agora havia regras.
Havia espaço.
E havia fogo.