Na manhã seguinte, Luna acordou leve, como se fosse véspera de Natal.
Ela não precisou pensar muito — o destino do dia já estava decidido na sua mente desde a noite anterior. Era um desejo que carregava há muito tempo.
— Heitor, hoje a gente vai naquele pub que te falei — disse, animada enquanto amarrava o cabelo. — O Rolf’s German Restaurant. Eu quero muito ir. Quero viver um Natal agora.
Ele sorriu, ajeitando a camisa.
Ela se aproximou e lhe deu um beijo leve.
Pegaram o metrô e depois um táxi até o restaurante. Luna observava as ruas como quem grava cada detalhe.
Quando chegaram, a fachada discreta quase escondia a magia que havia dentro. Mas, ao atravessar a porta, Luna parou imediatamente, deslumbrada.
O interior era um espetáculo.
O teto e as paredes estavam completamente cobertos por luzinhas coloridas, guirlandas, bolas gigantes e estatuetas de Papai Noel. Havia árvores de Natal por todos os lados e fitas douradas que serpenteavam pelo espaço, criando uma sensação de estar dentro de um cartão de Natal vivo.
O cheiro doce de canela, noz-moscada e vinho quente preenchia o ar.
— Heitor… é mais lindo do que imaginei. Parece um sonho.
Ele se aproximou, satisfeito em ver que ela estava exatamente onde deveria estar.
— Quando vim aqui, pensei: “Um dia vou trazer alguém que mereça estar nesse lugar.” Hoje, tenho certeza que trouxe a pessoa certa.
Foram conduzidos até uma mesa pequena, ao lado de uma árvore enorme repleta de miniaturas de renas e duendes. Luna não conseguia parar de olhar para os detalhes, maravilhada.
— Eu sempre amei o Natal — disse ela, emocionada. — Mesmo quando era simples, mesmo quando era só eu e minha avó vendo filmes antigos na TV. Era o meu refúgio.
— Vamos criar o nosso Natal, do nosso jeito — respondeu Heitor, entrelaçando os dedos nos dela.
Quando o garçom chegou, Luna assumiu o comando dos pedidos, ansiosa para provar de tudo. Era o Natal dos seus sonhos, e ela queria aproveitar ao máximo.
Começaram pelo eggnog — a famosa bebida cremosa feita com leite, ovos, açúcar e noz-moscada, servida morna.
Luna tomou um gole, franziu o nariz e empurrou o copo, rindo.
— Isso tem gosto de mingau de ovo com perfume de pinheiro. Heitor… como alguém gosta disso?
— Eu te avisei que eggnog é uma tradição estranha — respondeu ele, rindo com gosto.
— Definitivamente, riscado da lista.
Ela logo se animou novamente ao provar os gingerbreads — os biscoitos de gengibre decorados com glacê. Comeu três de uma vez e lambeu os dedos, satisfeita.
— Esses, sim. Isso é puro Natal.
— Pelo jeito vamos ter que fazer gingerbreads em casa todo ano — comentou Heitor.
— Todo mês, você quer dizer — provocou ela.
Experimentaram também as mince pies, tortinhas recheadas com frutas secas e especiarias. Luna ficou surpresa.
— São muito boas. Achei que não ia gostar, mas parece um abraço doce.
Depois veio o nut roast, um assado vegetariano de nozes, cogumelos e castanhas.
Luna mastigou devagar, analisando.
— É… interessante. Tem gosto de floresta. Mas não me ganhou como os biscoitos.
Heitor riu, limpando os cantos da boca com o guardanapo.
— Tá ficando exigente, hein.
— Eu só quero o melhor Natal possível. Não aceito menos que isso.
— Isso eu posso te dar.
A sobremesa foi o clássico panetone. Luna fechou os olhos na primeira mordida, saboreando lentamente.
— Ah, panetone. Isso é conforto puro. E sim, gosto das frutas cristalizadas. Se você não gostar, pode deixar todas pra mim.
— Eu gosto, mas se você quiser, te dou as minhas.
— Você sempre me dá as melhores partes, né?
— Sempre.
Porque você é a melhor parte do meu Natal — ele disse, encostando a testa na dela.
Luna ficou em silêncio por alguns segundos, absorvendo aquele momento como um presente.
— Você sabe, Heitor… talvez essa tenha sido a melhor parte de toda a viagem. Eu sonhei com isso. Esse Natal, essas luzinhas, essas comidas… E agora eu tenho tudo isso. Com você.
— A sua ideia foi perfeita.
Eu conhecia o lugar, mas nunca foi tão bonito quanto hoje.
— Porque você nunca veio comigo.
— É. Você mudou tudo.
Passaram horas ali, rindo, comendo e compartilhando memórias. Luna tirava fotos sem parar, posava com os biscoitos, com as luzinhas, com os pratos coloridos. Heitor, dessa vez, não reclamou. Ele só observava. E registrava tudo na memória.
Quando saíram do restaurante, já era noite. As ruas de Nova York estavam frias, mas o coração de Luna parecia mais quente do que nunca.
— Você quer voltar pro hotel? — perguntou ele.
— Sim. Quero ficar um pouco com você… longe do mundo.
— E quando a gente voltar pra casa, pode deixar que eu mesmo vou encher tudo de luzinhas de Natal.
— Você promete?
— Prometo. Luzes, bolinhas, gingerbreads. O ano todo, se você quiser.
Ela sorriu, caminhando ao lado dele.
— Você é impossível, Heitor.
— Sou, mas você me escolheu.
— E continuo escolhendo.
Cruzaram as ruas com passos tranquilos, como quem sabe que ainda tem muito o que viver.
E naquele dia, no Natal fora de época, Luna percebeu:
Nem todos os laços precisam ser prisões.
Alguns laços… aquecem.