Ela Viajou para Dentro Dele: Capítulo 35 – O Natal Fora de Época

Na manhã seguinte, Luna acordou leve, como se fosse véspera de Natal.
Ela não precisou pensar muito — o destino do dia já estava decidido na sua mente desde a noite anterior. Era um desejo que carregava há muito tempo.

— Heitor, hoje a gente vai naquele pub que te falei — disse, animada enquanto amarrava o cabelo. — O Rolf’s German Restaurant. Eu quero muito ir. Quero viver um Natal agora.

Ele sorriu, ajeitando a camisa.
Ela se aproximou e lhe deu um beijo leve.

Pegaram o metrô e depois um táxi até o restaurante. Luna observava as ruas como quem grava cada detalhe.
Quando chegaram, a fachada discreta quase escondia a magia que havia dentro. Mas, ao atravessar a porta, Luna parou imediatamente, deslumbrada.

O interior era um espetáculo.

O teto e as paredes estavam completamente cobertos por luzinhas coloridas, guirlandas, bolas gigantes e estatuetas de Papai Noel. Havia árvores de Natal por todos os lados e fitas douradas que serpenteavam pelo espaço, criando uma sensação de estar dentro de um cartão de Natal vivo.

O cheiro doce de canela, noz-moscada e vinho quente preenchia o ar.

— Heitor… é mais lindo do que imaginei. Parece um sonho.

Ele se aproximou, satisfeito em ver que ela estava exatamente onde deveria estar.

— Quando vim aqui, pensei: “Um dia vou trazer alguém que mereça estar nesse lugar.” Hoje, tenho certeza que trouxe a pessoa certa.

Foram conduzidos até uma mesa pequena, ao lado de uma árvore enorme repleta de miniaturas de renas e duendes. Luna não conseguia parar de olhar para os detalhes, maravilhada.

— Eu sempre amei o Natal — disse ela, emocionada. — Mesmo quando era simples, mesmo quando era só eu e minha avó vendo filmes antigos na TV. Era o meu refúgio.

— Vamos criar o nosso Natal, do nosso jeito — respondeu Heitor, entrelaçando os dedos nos dela.

Quando o garçom chegou, Luna assumiu o comando dos pedidos, ansiosa para provar de tudo. Era o Natal dos seus sonhos, e ela queria aproveitar ao máximo.

Começaram pelo eggnog — a famosa bebida cremosa feita com leite, ovos, açúcar e noz-moscada, servida morna.

Luna tomou um gole, franziu o nariz e empurrou o copo, rindo.

— Isso tem gosto de mingau de ovo com perfume de pinheiro. Heitor… como alguém gosta disso?

— Eu te avisei que eggnog é uma tradição estranha — respondeu ele, rindo com gosto.

— Definitivamente, riscado da lista.

Ela logo se animou novamente ao provar os gingerbreads — os biscoitos de gengibre decorados com glacê. Comeu três de uma vez e lambeu os dedos, satisfeita.

— Esses, sim. Isso é puro Natal.

— Pelo jeito vamos ter que fazer gingerbreads em casa todo ano — comentou Heitor.

— Todo mês, você quer dizer — provocou ela.

Experimentaram também as mince pies, tortinhas recheadas com frutas secas e especiarias. Luna ficou surpresa.

— São muito boas. Achei que não ia gostar, mas parece um abraço doce.

Depois veio o nut roast, um assado vegetariano de nozes, cogumelos e castanhas.

Luna mastigou devagar, analisando.

— É… interessante. Tem gosto de floresta. Mas não me ganhou como os biscoitos.

Heitor riu, limpando os cantos da boca com o guardanapo.

— Tá ficando exigente, hein.

— Eu só quero o melhor Natal possível. Não aceito menos que isso.

— Isso eu posso te dar.

A sobremesa foi o clássico panetone. Luna fechou os olhos na primeira mordida, saboreando lentamente.

— Ah, panetone. Isso é conforto puro. E sim, gosto das frutas cristalizadas. Se você não gostar, pode deixar todas pra mim.

— Eu gosto, mas se você quiser, te dou as minhas.

— Você sempre me dá as melhores partes, né?

— Sempre.
Porque você é a melhor parte do meu Natal — ele disse, encostando a testa na dela.

Luna ficou em silêncio por alguns segundos, absorvendo aquele momento como um presente.

— Você sabe, Heitor… talvez essa tenha sido a melhor parte de toda a viagem. Eu sonhei com isso. Esse Natal, essas luzinhas, essas comidas… E agora eu tenho tudo isso. Com você.

— A sua ideia foi perfeita.
Eu conhecia o lugar, mas nunca foi tão bonito quanto hoje.

— Porque você nunca veio comigo.

— É. Você mudou tudo.

Passaram horas ali, rindo, comendo e compartilhando memórias. Luna tirava fotos sem parar, posava com os biscoitos, com as luzinhas, com os pratos coloridos. Heitor, dessa vez, não reclamou. Ele só observava. E registrava tudo na memória.

Quando saíram do restaurante, já era noite. As ruas de Nova York estavam frias, mas o coração de Luna parecia mais quente do que nunca.

— Você quer voltar pro hotel? — perguntou ele.

— Sim. Quero ficar um pouco com você… longe do mundo.

— E quando a gente voltar pra casa, pode deixar que eu mesmo vou encher tudo de luzinhas de Natal.

— Você promete?

— Prometo. Luzes, bolinhas, gingerbreads. O ano todo, se você quiser.

Ela sorriu, caminhando ao lado dele.

— Você é impossível, Heitor.

— Sou, mas você me escolheu.

— E continuo escolhendo.

Cruzaram as ruas com passos tranquilos, como quem sabe que ainda tem muito o que viver.
E naquele dia, no Natal fora de época, Luna percebeu:
Nem todos os laços precisam ser prisões.
Alguns laços… aquecem.

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