Os dias no Brasil começaram a ganhar um ritmo diferente. Mais calmo. Mais orgânico.
Luna voltou à floricultura, não porque precisava, mas porque queria sentir de novo o cheiro das pétalas, da terra, e o calor simples dos dias normais.
Seu trabalho agora era mais espaçado — as viagens e os eventos eram organizados com mais equilíbrio. Ela já não corria para todos os compromissos. Ela escolhia. E isso era novo para ela.
Heitor, por outro lado, manteve-se presente, mas sem as correntes invisíveis de antes. Ele entendeu, ou ao menos tentava entender, que Luna precisava respirar, que ela não era uma extensão dele — e que amá-la era permitir que ela tivesse o próprio espaço.
Mesmo assim, seus olhos sempre a procuravam. Ele continuava atento. Sempre foi de reparar nos detalhes — no modo como ela prendia o cabelo, no perfume que escolhia, nas músicas que ouvia enquanto pintava.
Luna percebia.
Percebia, mas dessa vez não se sentia presa. Ela se sentia escolhida.
Durante as manhãs, ela continuava a visitar a floricultura e investia cada vez mais tempo na arte. O projeto que nasceu em Nova York havia crescido, com convites surgindo de diversas cidades, até mesmo fora do país.
Ela se tornava, pouco a pouco, alguém que inspirava outras mulheres. Não só pela arte que fazia, mas pela história que carregava.
Heitor a assistia de longe, com orgulho — e, claro, com um toque sutil de ciúmes que ele já sabia esconder melhor.
Às vezes, ele precisava controlar o impulso de querer decidir tudo por ela.
E às vezes, ainda falhava.
— Você está demorando para responder minhas mensagens — ele dizia num tom meio sério, meio brincalhão, enquanto cortava frutas na cozinha.
— Isso porque eu estou vivendo — respondia Luna, com um sorriso leve. — Mas você sabe que sempre volto pra você.
— Eu não gosto de esperar.
— Você já esperou por mim antes. Pode esperar de novo.
O equilíbrio deles estava ali, dançando na borda entre liberdade e presença.
As noites, no entanto, pertenciam aos dois. Jantares tranquilos em casa, cafés compartilhados na varanda, filmes esquecidos na televisão enquanto as conversas se prolongavam até a madrugada.
Luna mantinha o controle da casa, ainda amiga das luzes azuis da Alexa, que vez ou outra piscavam, mesmo sem necessidade.
— Você ainda programa isso pra me vigiar? — ela perguntou, desconfiada, em uma das tardes.
— Talvez. Ou talvez a casa só goste de você — ele respondeu, com aquele sorriso que ela já sabia que vinha carregado de meias verdades.
Mesmo com os resquícios do ciúme e da velha mania de querer saber de tudo, Heitor estava diferente.
Ele era, agora, alguém que tentava merecer Luna — não alguém que tentava possuí-la.
Mas o que Luna não sabia, e nem suspeitava, era que Heitor estava planejando algo desde que voltaram.
Enquanto ela mergulhava nos quadros e organizava as novas exposições, ele arquitetava cada detalhe, em silêncio.
Ele já havia escolhido o anel. Já havia pensado nas palavras.
Já havia visualizado o momento.
O pedido de casamento.
Um passo que ele, há um ano, teria tentado empurrar. Agora, queria que fosse natural. Que fosse uma escolha dela — e não um cerco.
Ele queria surpreendê-la.
Queria que fosse inesquecível.
Mas ela…
Ela não fazia ideia.
E enquanto os dias seguiam leves, Luna achava que tudo estava sob seu controle.
Mal sabia ela que Heitor, mais uma vez, estava construindo algo.
Dessa vez, não para prendê-la.
Mas para convidá-la.
Para uma nova escolha.
Uma que, talvez, mudasse tudo de novo.