Ela Viajou para Dentro Dele: Capítulo 38 – O Plano

Heitor nunca foi bom em esperar.
Muito menos em guardar segredos.

Mas dessa vez, ele estava determinado a fazer tudo certo.
Pela primeira vez, ele não queria controlar. Ele queria convidar.
E o convite mais importante da vida dele precisava ser especial.

Ele sabia o que Luna valorizava: liberdade, escolhas, espaço.
Sabia que ela jamais aceitaria um pedido de casamento como uma armadilha ou uma imposição.
Sabia que precisava planejar algo que fosse um presente, não uma prisão.

E, acima de tudo, sabia que, se errasse no tom, poderia perdê-la para sempre.

Foi por isso que, em segredo, começou a desenhar o plano.

Primeiro, o anel. Não queria nada grandioso demais. Queria algo que fosse discreto, íntimo, quase como um segredo que pertencesse apenas a eles dois.
Escolheu uma aliança fina, elegante, com um rubi pequeno cravado no interior — um toque especial, visível apenas por quem a usasse.

— Quero que chegue até sexta-feira — reforçou ao joalheiro. — É urgente. Mas não pode ter erro.

O joalheiro, conhecido por sua discrição, garantiu que tudo sairia como o planejado.

Depois, veio o segundo passo: o lugar.
Ele pensou no Rolf’s, o restaurante natalino que ela havia amado em Nova York, mas descartou a ideia. Seria óbvio demais. Luna era esperta, e ele queria surpreendê-la de verdade.

Queria um cenário onde ela pudesse se sentir confortável, onde as memórias boas falassem mais alto do que qualquer desconfiança.
Então, depois de dias pesquisando, encontrou um pequeno chalé no interior, cercado de árvores, com uma varanda aberta para o céu e uma lareira que aqueceria as noites.

Fez a reserva, pediu flores natalinas mesmo fora de época, e solicitou uma trilha sonora especial — canções natalinas suaves, porque Luna sempre se sentia mais viva quando o Natal, de alguma forma, estava presente.

— Tem que parecer que o Natal nunca foi embora — disse ele ao gerente.

Enquanto os preparativos avançavam, o maior desafio foi esconder tudo de Luna.
E isso… era quase impossível.

Luna era atenta.
Ela percebia cada pequeno movimento.

Começou a notar que Heitor falava ao telefone com mais frequência.
E que, estranhamente, desligava assim que ela entrava no cômodo.
Notou também que ele começou a sair de casa em horários aleatórios, sem dar explicações muito convincentes.

— Você está estranho — disse ela certa manhã, ao encontrar Heitor mexendo no celular e rapidamente o colocando no bolso. — Tá me escondendo alguma coisa?

— Eu? Imagina. Você está delirando.

— Ah, claro. Porque você nunca esconde nada de mim, né?

Ele se aproximou, brincando, e beijou o pescoço dela.

— Você confia em mim?

— Confio. Mas odeio não saber das coisas.

— Só confia. Vai valer a pena.

Ela estreitou os olhos, desconfiada, mas deixou passar.

Até que, alguns dias depois, Luna ouviu sem querer uma conversa de Heitor no viva-voz, enquanto ele organizava algumas flores na varanda.

— Isso. A reserva está confirmada. Preciso das flores no quarto, e lembrem-se das músicas natalinas, mesmo fora da temporada. Vai ser importante.
(…)
— E o anel? Chegou? Ótimo. Só falta organizar o jantar.

Luna ficou paralisada.

Anel? Flores? Jantar?

Ela cruzou os braços e esperou Heitor desligar.

— Alguma coisa que você quer me contar? — perguntou, com um sorriso torto, tentando disfarçar a curiosidade.

Heitor se virou, fingindo um ar distraído.

— Trabalho. Só resolvendo um projeto.

— Flores, músicas natalinas, jantar… parece um projeto bem pessoal.

— Você está ouvindo demais.

— Você está escondendo demais.

— Você está me espionando?

— Você está me deixando curiosa demais.

Ele se aproximou e a envolveu pela cintura, puxando-a devagar.

— Confia.

— Estou tentando.

— Vai valer a pena.

Os dias continuaram com esse jogo.
Luna tentava decifrar.
Heitor tentava não se entregar.

O pacote com o anel foi entregue escondido, e ele guardou no fundo da gaveta que ela raramente abria.
Luna percebeu o nervosismo dele sempre que o celular tocava.
Viu quando ele olhou sites de viagens e fingiu que estava vendo notícias.

Até mesmo as amigas da floricultura começaram a soltar pequenas pistas.

— Luna, ouvi dizer que alguém está organizando algo especial pra você — disse Ana, com um sorriso de quem sabia mais do que deveria.

— Quem te contou isso? — perguntou Luna, desconfiada.

— Só ouvi por aí… Mas parece que vai ser inesquecível.

Luna começava a sentir uma mistura de ansiedade e irritação.
Ela odiava surpresas, mas parte dela queria descobrir o que Heitor estava tramando.
O que ele estava planejando com tanto cuidado.
E, principalmente, o que ele esperava dela quando revelasse tudo.

Certa noite, já deitados, Luna se virou para ele, os olhos semicerrados.

— Você está me escondendo alguma coisa grande, né?

Heitor sorriu, de olhos fechados.

— Talvez.

— Vai me contar?

— Ainda não.

— Heitor…

— Confia.

Ela suspirou.

— Você sempre diz isso. “Confia.”

— Porque agora você pode confiar.

— Você pode, pelo menos, me dizer uma coisa?

— Qual?

— Você está planejando alguma viagem?

— Talvez.

— É algo que eu gostaria?

— É algo que você nunca esqueceria.

Luna rolou os olhos, fingindo irritação.

— Você me mata de curiosidade.

— E você me mata de amor.

Ela sorriu, de verdade, e encostou o rosto no peito dele, sentindo a calma da respiração.

Mas o que ela não sabia era que cada detalhe já estava pronto.
O lugar, as flores, a música, o momento.

Heitor estava pronto para o maior passo da vida deles.
Mas estava pronto para fazê-lo do jeito certo: deixando que ela fosse livre para escolher.

Ele nunca imaginou que estaria ali, daquele jeito.
Nunca pensou que pediria alguém em casamento com o coração aberto — sem grades, sem algemas, sem trancas.

E Luna…
Luna, por mais que desconfiasse de tudo, ainda não fazia ideia.

O pedido estava chegando.
E o jogo estava prestes a mudar de novo.

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