Ela Viajou para Dentro Dele: Capítulo 39 – O Chalé

O convite chegou numa manhã de sábado, inesperado e direto, como as coisas que Heitor fazia quando queria surpreender Luna.

— Prepara as malas — ele disse, enquanto mexia distraidamente no celular. — Vamos viajar amanhã cedo.

— Pra onde? — perguntou ela, curiosa, fechando um livro que estava lendo.

— Surpresa.

— Heitor…

— Confia.

Luna bufou, mas sorriu logo em seguida. Ela já sabia que Heitor estava tramando algo. Há semanas, ele sumia com ligações misteriosas, mensagens escondidas e uma ansiedade disfarçada que ele mal conseguia conter.

Ela tentou arrancar informações de todos os jeitos: revirou o histórico do navegador dele, pescou indiretas com as amigas da floricultura e até tentou vasculhar o closet — onde, curiosamente, uma pequena gaveta havia sido trancada recentemente.

Mas Heitor era cauteloso.
Dessa vez, ele não daria brechas.

Quando eles chegaram no aeroporto. Luna esperava um embarque comum, mas foi surpreendida com um atendimento diferente. Heitor havia reservado um voo executivo — conforto máximo, sem multidões, com direito a um serviço de bordo que a fazia sentir que estavam em outro mundo.

— Que exagero — disse ela, ajeitando o cinto de segurança na poltrona espaçosa. — É só uma viagem ou você está tentando me comprar com mimos?

— Talvez os dois — ele respondeu, rindo. — Você merece.

— Você está muito fofo. Isso me assusta.

— Aproveita.

O voo foi curto e leve. Luna tentava adivinhar o destino, mas Heitor a distraía com pequenas provocações, brincadeiras e histórias inventadas.

— Vamos para um retiro espiritual? — ela chutou.

— Mais ou menos.

— Você me inscreveu num curso de sobrevivência no mato?

— Quase.

— Heitor…

— Confia.

Ela revirou os olhos, fingindo irritação, mas no fundo, estava começando a gostar daquela ansiedade boa.

O carro que os buscou no aeroporto seguiu por estradas tranquilas, cortando pequenas cidades, campos verdes e florestas densas até que, depois de quase duas horas, chegaram ao chalé.

Luna ficou encantada.

Era um lugar aconchegante, com uma fachada de madeira escura, janelas grandes e uma varanda que se abria para um pequeno lago. Ao redor, árvores altas criavam uma muralha natural, protegendo o espaço e oferecendo um silêncio raro.

— Uau — disse ela, ao descer do carro. — Isso é… perfeito.

— Achei que você gostaria — disse Heitor, satisfeito por ver o brilho nos olhos dela.

No interior do chalé, cada detalhe parecia pensado para agradá-la: as flores natalinas espalhadas discretamente, velas aromáticas, almofadas macias e, no fundo, uma trilha sonora com canções natalinas suaves tocava baixinho.

— Heitor… por que músicas de Natal? Estamos longe de dezembro.

— Porque pra você, o Natal nunca foi embora, lembra?

Ela sorriu, tocada.

— Você pensou em tudo isso?

— Cada detalhe.

— Isso tá começando a parecer uma armadilha muito bonita.

— É um presente, não uma armadilha.

Eles passaram a tarde explorando a área. Caminharam de mãos dadas perto do lago, jogaram conversa fora na varanda, e Heitor, com o celular longe, estava completamente entregue ao momento.

Luna tentava relaxar, mas a curiosidade não a deixava em paz.
Ela sentia que algo grande estava se aproximando. Era impossível ignorar.
Os olhares de Heitor, os silêncios mais longos, a maneira como ele a tocava com cuidado, como quem carregava algo precioso.

Ao anoitecer, Heitor preparou um jantar simples, mas especial.
Ele colocou a mesa do lado de fora, sob um céu limpo e estrelado. Havia vinho, uma torta que Luna adorava, e até um bolo de frutas típico das festas natalinas.

Ela riu, surpresa.

— Bolo de frutas? Você realmente trouxe o Natal pra cá, né?

— É o que faz você sorrir. E seu sorriso é o que eu mais gosto de ver.

Enquanto jantavam, Luna perguntou, entre curiosa e provocativa:

— Você está planejando me sequestrar de novo, Heitor?

— Não.
Agora… só quero te convidar a ficar. Mas você pode ir quando quiser.

— Você fala isso, mas continua me escondendo coisas.

— Amanhã você vai entender tudo.

— Heitor…

— Confia.

O clima entre eles era leve, doce, mas Luna sabia: o que quer que estivesse por vir, não seria só mais um passeio.

Ela tentava decifrar, tentava se antecipar, mas Heitor havia aprendido a ser cuidadoso.
Nenhuma pista extra, nenhum deslize.

A noite foi encerrada com os dois abraçados na varanda, um cobertor dividindo o calor, o som de sinos natalinos tocando ao fundo.

— Heitor… — disse Luna, quase num sussurro — por que você faz tudo isso?

— Porque te amo. E porque você merece viver coisas boas.
Sem medo. Sem pressa.
E porque… amanhã vai ser especial.

Ela suspirou, aconchegando-se mais perto.

— Eu confio.

Heitor sorriu.
Ela finalmente disse.
Ela finalmente confiava.

Mas ela ainda não sabia que, guardado na gaveta do quarto, estava o anel.
E que amanhã…
Seria o dia que mudaria tudo.

Ela dormiu tranquila naquela noite.
Heitor, por outro lado, mal conseguiu fechar os olhos, revendo mentalmente cada parte do plano.

Tudo precisava ser perfeito.

O pedido estava pronto.
A pergunta estava pronta.

Faltava apenas o momento.

E ele mal podia esperar.

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