O pedido de casamento parecia ter aberto uma nova porta entre eles.
Uma porta que sempre esteve ali, mas que, talvez, nunca tivesse sido verdadeiramente destrancada.
Luna e Heitor voltaram do chalé diferentes.
Mais leves. Mais cúmplices.
E, pela primeira vez, planejavam algo… juntos.
Os dias seguintes foram um mergulho em listas, orçamentos, provas de vestidos, degustações de bolo e infinitas visitas a salões de festas.
Heitor, que sempre quis controlar tudo, se esforçava — de verdade — para dar espaço às escolhas de Luna.
Ela notou isso.
— Você está se segurando para não decidir tudo, né? — disse ela certa tarde, enquanto visitavam um espaço de cerimônia.
— É óbvio que eu estou me segurando — ele respondeu, rindo. — Eu me coço inteiro cada vez que você diz que quer “ver outras opções”.
— Mas você está se saindo bem.
Estou orgulhosa de você.
— Você vai se arrepender de me dar tanto poder depois.
Eu me conheço. Vai chegar a hora que eu vou querer escolher a cor das guardanapos.
— Heitor… você já escolheu a trilha sonora inteira da festa.
— Porque você me deixou.
— Porque eu gosto de te ver empolgado.
Mas você me prometeu: parceria. Divisão. Decisões juntos.
— E estamos decidindo juntos.
Eu te mostro o que eu quero, você decide se concorda.
— Heitor…
— Brincadeira. Brincadeira.
Eles riam mais.
As brigas agora eram pequenas, bobas, quase sempre encerradas com um beijo ou uma provocação.
O casamento seria íntimo, como Luna queria. Nada grandioso. Apenas as pessoas certas.
E o detalhe mais importante: tudo teria um toque natalino, já que ocorreria somente no fim do ano.
— Vai parecer o Rolf’s — disse ela, animada, enquanto escolhiam a decoração. — Eu quero luzes, árvores, biscoitos de gengibre e Eggnog. Mesmo que ninguém goste.
— Você não gostou do Eggnog — ele lembrou, rindo.
— Eu não gostei, mas ficou bonito nas fotos.
Heitor organizava tudo com dedicação. Mas, agora, perguntava tudo a Luna.
Ela notava que ele realmente estava tentando respeitar seus limites, mesmo quando ele queria fazer tudo sozinho.
Às vezes, ele ainda ficava tenso quando alguém elogiava demais Luna, especialmente os fornecedores e decoradores que pareciam encantados com ela.
— O florista te chamou de “linda” de novo — murmurou ele, numa dessas tardes.
— E daí? Você quer que ele diga que eu sou feia?
— Eu só acho desnecessário.
— Heitor, relaxa. Eu só tenho olhos pra você.
E agora… você é meu noivo, lembra?
— Melhor título que já ganhei.
Mas mesmo com tudo caminhando bem, Luna às vezes sentia a sombra do antigo Heitor: quando ele queria saber onde ela estava a cada minuto, quando ele perguntava quem estava com ela, quando a Alexa acendia sempre que ela passava.
— Você ainda me monitora — disse ela certa noite, deitada no sofá com ele.
— Eu não te monitoro — defendeu-se, mexendo no cabelo dela. — Eu só… me preocupo.
— Você pode confiar em mim. Eu voltei porque quis.
— Eu sei.
Mas… saber que você pode ir ainda me assusta.
Ela se virou, olhando nos olhos dele.
— E saber que você me ama mesmo me deixando livre me faz ficar.
Heitor respirou fundo, tentando aceitar.
— É um exercício diário pra mim.
— Eu percebo. E te agradeço por tentar.
Eu também estou aprendendo a ter paciência com suas manias.
— Quais manias?
— Quer a lista ou quer que eu desenhe?
Ele riu, puxando-a para mais perto.
— Vai ser um bom casamento, né?
— Vai ser o nosso casamento. Vai ser perfeito.
— Você quer fazer lua de mel onde?
— Você vai deixar eu escolher?
— Vou tentar.
— Quero um lugar frio.
— Achei que você ia pedir praia.
— Frio combina com chocolate quente, cobertor e…
— … natal?
— Exatamente.
— A gente pode ir pra Alemanha. Os mercados de Natal lá são incríveis.
— Você já pesquisou?
— Já. Desde o primeiro dia que pensei em casar com você.
Luna sorriu, enternecida.
— Heitor, você é um ciumento exagerado, um controlador em recuperação, mas… você é meu lar.
Eu quero isso com você. Quero planejar. Quero viver isso.
— E eu quero ser o investidor da sua vida inteira.
— Investidor exclusivo?
— Totalmente exclusivo.
— E você vai confiar em mim até o fim?
— Vou tentar todos os dias.
Eles selaram o momento com um beijo calmo, de quem finalmente entende que amar é caminhar junto, não puxar o outro para trás.
E mesmo que as manias de Heitor continuassem — mesmo que a Alexa ainda acendesse quando não precisava — Luna agora não sentia que estava sendo vigiada.
Ela sentia que era vista.
E isso fazia toda a diferença.
O casamento se aproximava.
O novo capítulo estava chegando.
E, dessa vez, os dois estavam escrevendo juntos.