Os dias que antecederam o casamento foram intensos.
Uma mistura de correria, pequenas preocupações, risos inesperados e, claro, aquelas velhas tensões que teimavam em aparecer, como se fizessem parte do pacote.
Luna estava imersa nos preparativos.
Ela revisava contratos, ajustava detalhes com fornecedores e se apaixonava cada vez mais pelo toque natalino que os dois haviam decidido colocar na cerimônia. O cheiro de canela, os enfeites discretos, as luzes que fariam o salão parecer uma extensão daquele restaurante de Nova York que ela tanto amou.
— Você está cada vez mais igual a mim — Heitor brincou, observando-a enquanto ela revisava pela terceira vez a lista das lembrancinhas.
— Deus me livre — ela respondeu, sem desviar os olhos da planilha. — Mas sim, estou começando a entender porque você sempre quer ter certeza de tudo. É um vício.
— Vício perigoso — ele disse, se aproximando para abraçá-la por trás. — Vício de quem quer que tudo seja perfeito.
— E vai ser.
— Vai porque você está no comando — provocou.
Ela olhou de lado, rindo.
— Quem diria, hein? Você, me dando o controle.
— Estou me esforçando.
— Eu vejo isso.
As pequenas discussões ainda surgiam.
Como quando Luna queria experimentar outras opções de bolo, mas Heitor já havia decidido qual seria. Ou quando ele queria convidar um ex-colega de trabalho que ela nunca suportou.
Mas agora, tudo se resolvia mais rápido.
Eles tinham aprendido a ceder. A ouvir. A respeitar.
O único ponto que ainda incomodava Luna era o celular de Heitor.
Ela o pegava, às vezes, trocando mensagens rápidas, franzindo a testa, como se estivesse resolvendo algo escondido.
— Heitor, com quem você está falando?
— É só com o cerimonialista.
Tô ajustando os horários.
— Me mostra.
Ele hesitou, mas depois estendeu o celular.
Ela leu. Era verdade.
Mas o olhar de desconfiança ficou.
— Você ainda tem esse impulso de me esconder as coisas. Mesmo pequenas.
— É hábito. Estou tentando mudar.
— Eu percebo.
Mas você tem que lembrar: eu voltei porque quis.
Eu estou aqui porque escolhi. Não precisa me proteger de tudo.
— Eu sei. Eu só…
Ainda estou aprendendo.
Luna o abraçou, sussurrando:
— Vamos continuar aprendendo juntos.
Não precisamos ser perfeitos.
A noite que antecedia o casamento foi mais tranquila.
Eles ficaram em casa, organizando os últimos detalhes e rindo das mensagens carinhosas (e algumas engraçadas) que recebiam dos convidados.
Heitor estava nervoso, mas se esforçava para parecer calmo.
Luna percebia. Ele estava inquieto, mexendo no celular, repassando listas, como se temesse que algo escapasse.
— Heitor.
— Oi?
— Você não precisa conferir tudo agora. Está tudo pronto.
— E se eu esqueci de alguma coisa?
— Você não esqueceu.
— Como você sabe?
— Porque você é o Heitor.
E porque dessa vez, você fez tudo comigo.
Juntos.
Ele respirou, aliviado com as palavras dela.
Foram para o quarto mais cedo, e enquanto se deitavam, Luna aproveitou o momento para provocar.
— Sabe… você ficou me devendo a resposta de antes.
— Qual?
— Se você me deixaria ficar mais tempo se eu quisesse.
Heitor sorriu, se virando de lado para olhá-la.
— Claro que deixaria.
Se você quiser mudar os planos, eu compro novas passagens.
Se quiser ficar onde estamos, ficamos.
Se quiser ir, vamos.
A única condição é que eu vá com você.
Desde que… isso seja o que você quer.
Ela sorriu, acariciando o rosto dele.
— Você ainda me surpreende.
— Eu estou tentando ser menos insuportável.
Me esforço todo dia.
— Está funcionando.
— Eu só quero… ficar com você.
Em qualquer lugar.
Sob qualquer condição.
Luna se aproximou, beijando sua testa com carinho.
— Você já conseguiu.
Você já me tem.
— Amanhã é o nosso dia, Luna.
— Amanhã é o começo de uma vida nova.
A nossa vida.
Sem fugas. Sem trancas. Sem vigias.
— Sem vigias — ele repetiu, com um sorriso de canto.
Ela não percebeu, mas a Alexa, na sala, piscou uma vez — aquela luz azul conhecida.
Talvez fosse coincidência. Talvez não.
Mas naquele momento, Luna não se importava.
Eles estavam no mesmo lugar. No mesmo tempo. Na mesma decisão.
E o amanhã…
Ah, o amanhã estava tão perto.
E dessa vez, eles realmente estavam prontos.