O Primeiro Halloween de Heitor e Luna: Capítulo 3 – O Jogo das Máscaras

Meia-noite.

A hora oficial do Jogo das Máscaras.

As luzes da casa foram reduzidas a um tom âmbar, quase dourado.

A música cessou de repente, e a Alexa anunciou, com uma voz programada, porém estranhamente mais humana:

— O jogo começa agora.
Vocês terão uma hora.

Quem encontrar a máscara perdida será o vencedor.

As regras eram simples:
Em algum lugar da casa havia uma máscara especial, decorada com penas negras e detalhes dourados.

Quem a encontrasse poderia solicitar um desejo aos anfitriões.

Era, claro, apenas uma brincadeira.
Ou pelo menos deveria ser.

— Isso estava combinado? — Luna perguntou a Heitor, de olhos semicerrados.

— Parte foi. Mas a Alexa acabou… se adaptando.

— Como assim, se adaptando?

— Eu deixei o sistema livre para criar variações. Ficar muito previsível seria chato, não acha?

— Ou perigoso — ela murmurou, desconfiada.

A casa, agora repleta de corredores semi-iluminados, tornou-se um verdadeiro labirinto de sussurros, sombras e passos apressados.

Convidados mascarados se espalharam, abrindo portas, explorando cômodos, vasculhando cada canto em busca da tal máscara perdida.

Luna e Heitor se separaram temporariamente.
Ela queria brincar, queria descobrir o que era verdade e o que era invenção.

Mas, em alguns momentos, sentiu-se observada demais.

Cruzou com um convidado usando uma máscara preta de bico longo, estilo veneziana.

— Boa sorte na sua busca — disse ele, com uma voz abafada e um sotaque que Luna não reconheceu.

Quando ela se virou para perguntar quem era, ele já havia sumido.

A figura de máscara vermelha continuava aparecendo, sempre rápida demais para ser identificada.

Uma vez, Luna jurou tê-la visto ao lado da escada.

Outra vez, parada diante da biblioteca.
E foi lá que Luna decidiu entrar.

O cômodo estava escuro, com as cortinas pesadas bloqueando qualquer luz da rua.

O cheiro de livros antigos e cera de vela impregnava o ar.

Ela acendeu uma das pequenas luminárias e, ao se virar, encontrou um envelope preto sobre a mesa.

Dentro, apenas uma nova frase:
Algumas máscaras caem. Outras se tornam parte de quem você é.

Ela engoliu seco.

— Ok, Heitor, muito boa essa, hein? — falou sozinha, tentando se convencer de que ainda era parte do jogo.

Foi quando a porta da biblioteca se fechou com um estrondo.

Luna girou a maçaneta. Estava trancada.

Antes que pudesse chamar por ajuda, a Alexa acendeu sua luz azul e falou:

— Nem tudo é programado.

Nem tudo foi planejado.

Alguns convidados chegaram por conta própria.

— Isso ainda é o jogo, né? — ela sussurrou, cada vez menos certa.

A porta se abriu sozinha, e Luna saiu apressada, encontrando Heitor no corredor.

— Você sabia disso? Que alguns convidados vieram sem serem convidados?

— Alguns? Como assim?

— A Alexa disse isso. E eu vi. Tem gente aqui que… não é da nossa lista.

Heitor a olhou com seriedade, tirando a máscara por um segundo.

— Eu controlei tudo, Luna. Eu controlei. Eu… eu acho.

— Você “acha”? — ela disse, com o coração acelerado. — Você não está no controle?

— Eu estou. Estava.

Ela tocou o rosto dele, tentando entender se era mais um dos seus jogos.

— Isso ainda é parte da brincadeira, não é?

— Não tenho certeza.

Os convidados continuavam pelo salão, rindo, procurando a máscara perdida.

Mas agora Luna já não sabia mais o que era o jogo e o que era real.

A figura de máscara vermelha reapareceu, parada diante da porta principal.

Luna a seguiu.

Mas quando chegou ao hall de entrada, só encontrou um novo envelope, caído no chão.

Algumas máscaras você escolhe. Outras… escolhem você.

Ela sentiu um calafrio.

Quando voltou para o salão, um grito de excitação ecoou:

— Eu encontrei! Eu encontrei a máscara!
Todos se aproximaram.

Era a máscara perdida: penas negras e detalhes dourados, como descrito.

Mas quem a segurava… era a pessoa com a máscara vermelha.

Heitor se aproximou, analisando a cena.

— Quem é você? — ele perguntou.

O convidado virou-se lentamente, mas não retirou a máscara.

— Eu só vim buscar o que é meu.

E antes que alguém pudesse impedir, ele desapareceu entre a multidão.

A Alexa acendeu novamente, repetindo uma última frase:

— O jogo continua. Nem todas as máscaras foram retiradas.

Luna encarou Heitor, o coração ainda acelerado.

— Você tem certeza que controlava tudo?

— Não mais.

Ela respirou fundo, o sorriso voltando devagar aos lábios.

— Sabe… talvez isso torne o jogo ainda mais interessante.

Ele puxou-a para um beijo, tentando recuperar o controle.

Mas naquela noite, talvez ninguém mais tivesse controle de nada.

A festa ainda estava longe de terminar.

E o próximo movimento… não estava nas mãos deles.

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