Sombras do Vale – Capítulo 2: O Desespero

O relógio parecia zombar deles. Cada tique-taque era como um aviso: o tempo estava acabando. Henrique e Davi mal conseguiam organizar os pensamentos. O medo começou a corroer suas certezas e devorar a confiança que tinham construído ao longo dos anos. Pela primeira vez, sentiram-se vulneráveis. Intocáveis? Isso havia ficado no passado.

O desespero os tomou por completo.

Durante aquela manhã sufocante, Henrique passou horas vasculhando documentos, telefonando para aliados e tentando confirmar a profundidade da investigação que se aproximava como uma onda prestes a engoli-los. O HD era a prova fatal. Com ele em mãos, qualquer acordo, qualquer proteção política seria inútil. Estavam com a corda no pescoço.

Davi, por sua vez, tentava usar sua influência dentro da polícia local. Tentou subornar funcionários, chantagear subordinados e obter informações sobre as transferências de provas. Mas desta vez, parecia que o jogo havia mudado. As portas que antes se abriam com facilidade agora permaneciam cerradas. Pessoas que sempre se mostraram leais começavam a manter distância. Era como se um cheiro de podridão já os acompanhasse.

— Não estamos mais no controle, Henrique — Davi disse ao telefone, sua voz carregada de tensão. — Todo mundo está se afastando. Eu nunca vi algo assim.

— A gente sempre resolve. Vamos resolver agora também — retrucou Henrique, tentando parecer firme, mas a insegurança transbordava nas entrelinhas. Ele sabia que estava tentando convencer a si mesmo.

Foram dias intensos. Nenhum dos dois conseguiu dormir direito. Os pesadelos eram constantes e os telefonemas anônimos começaram a aparecer. Mensagens ameaçadoras pipocavam nos celulares. Era impossível saber de onde vinham. Tudo indicava que estavam sendo vigiados. Alguém estava manipulando o tabuleiro, e eles eram as peças prestes a cair.

O medo não era apenas da prisão. Era medo de quem poderiam trair. Os empresários, políticos e até criminosos para quem prestaram favores ao longo dos anos não tolerariam que seus nomes viessem à tona. Se fossem presos, morreriam antes de chegar ao tribunal.

O pânico se transformou em pressa.

Henrique e Davi organizaram um plano para invadir o depósito de evidências onde o HD estava armazenado. Sabiam que o transporte para a capital ocorreria em poucos dias e, depois disso, seria impossível alcançar o dispositivo. O problema era simples e cruel: mesmo que conseguissem recuperar o HD, ainda estariam presos. Eles não sabiam desbloqueá-lo. Não sabiam apagar as informações de forma segura. E mais: alguém lá fora ainda sabia de tudo. O HD era apenas parte da ameaça.

Foi nesse momento que a palavra “hacker” surgiu pela primeira vez na conversa. Eles precisavam de alguém com conhecimento suficiente para acessar, manipular e destruir aquelas provas sem deixar vestígios. Alguém que não estivesse vinculado ao sistema, alguém de fora, alguém sem medo de sujar as mãos.

Davi recordou-se de histórias sobre um hacker chamado Vírus, um nome sussurrado entre criminosos, contrabandistas e até policiais corruptos. Diziam que ele era um fantasma digital, um especialista em sumir com arquivos, apagar rastros e desaparecer como fumaça. O preço de seus serviços? Nunca era dinheiro.

Foi um passo difícil. Confiar em alguém que poderia destruí-los ainda mais parecia insano, mas o desespero os empurrou para um beco sem saída. Era isso ou serem arrastados para o fundo.

Henrique e Davi sabiam que cada segundo era precioso. A cada olhar na rua, sentiam-se perseguidos. A cada carro desconhecido estacionado na esquina, imaginavam que poderiam ser levados algemados. As paredes pareciam se fechar. O tempo, outrora aliado, agora era seu pior inimigo.

Não era mais uma questão de se seriam descobertos. Era uma questão de quando.
E eles precisavam agir antes que o relógio zerasse.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem