Sombras do Vale – Capítulo 4: O Preço do Silêncio

O que parecia ser o fim de um pesadelo, na verdade, era o início de uma nova prisão.
Vírus nunca escondeu suas condições. Desde o primeiro contato, ele deixou claro que não trabalhava por dinheiro. Sua moeda era o controle, era o poder de, um dia, poder chamar e ter os dois na palma da mão.

— Vocês me devem agora. Quando eu chamar, vocês virão. Sem perguntas, sem desculpas. 

— A frase ficou gravada como um eco doloroso, como um juramento maldito que Henrique e Davi não podiam quebrar. O sorriso frio que acompanhou aquelas palavras foi o que mais os atormentou. Vírus sabia o peso daquilo que havia imposto. Sabia que, a partir daquele momento, os dois pertenciam a ele.

A operação foi feita sob o véu da madrugada, num silêncio denso, apenas interrompido pelo som das teclas e pelos arquivos sendo apagados, um a um, como se nunca tivessem existido. Era um trabalho meticuloso, arriscado e tecnicamente impecável. Nenhuma chance de recuperação, nenhum vestígio.

Enquanto Vírus executava os comandos, Henrique e Davi observavam sem entender as telas que se alternavam rapidamente. Aquilo estava muito além do mundo deles. Era como assistir a um feitiço sombrio, um ritual digital que selava o destino de todos os envolvidos.

— Está feito. — Disse Vírus, quando o relógio já marcava quatro da manhã. Ele se levantou da cadeira improvisada, guardou seus equipamentos e se aproximou dos dois com um olhar sério. 

— A partir de agora, o HD é apenas um pedaço de plástico inútil. Mas a dívida de vocês? Essa ainda vai render muito.

Henrique, que havia conseguido manter a fachada firme durante toda a operação, sentiu um calafrio percorrer-lhe a espinha.

— Quando você vai nos chamar? — arriscou perguntar.

— Quando eu quiser. — Respondeu Vírus, com um leve levantar de ombros, como quem fala sobre algo trivial. — Pode ser amanhã, pode ser daqui a cinco anos. Vocês não vão saber. Só vão receber a ligação. E quando isso acontecer, larguem tudo e obedeçam. Sem discussão.

— E se… E se a gente não atender? — Davi perguntou, sua voz quase um sussurro.
Vírus aproximou-se ainda mais, quase rosto a rosto com Davi, e disse lentamente, palavra por palavra:

— Vocês não querem saber o que acontece se me ignorarem.

O silêncio que se seguiu foi sufocante.

Quando Vírus foi embora, os dois permaneceram no galpão por minutos intermináveis, sentados, calados, com a cabeça pesada e o peso da dívida sufocando seus pulmões. Eles haviam se livrado da polícia, da corregedoria, das provas. Mas, em troca, haviam se acorrentado a um homem imprevisível, alguém que agora os possuía de um jeito que a lei nunca poderia possuir.

A luz da manhã começou a surgir pelas frestas do galpão, mas não trouxe alívio. O HD estava limpo, sim, mas a sensação era a de que estavam ainda mais sujos do que nunca.

Henrique quebrou o silêncio:

— Fizemos o que precisávamos fazer.
Davi olhou para ele, cansado, derrotado.

— Não. Fizemos o que ele queria que a gente fizesse.

Henrique sabia que Davi estava certo.
A dívida com Vírus havia começado. E não havia como fugir.

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