Código Anônimo: Capítulo 6 — Primeiro Rastro

O clima no Colégio São Bento havia mudado. O riso fácil dos corredores agora era abafado por cochichos. Todos pareciam andar pisando em ovos. A Verdade Escolar se tornara a sombra silenciosa do colégio — e a direção sabia que não poderia mais fingir que era apenas “coisa de adolescente”.

Discretamente, a diretoria contratou um técnico de segurança digital. Um nome discreto, mas experiente: Ernani, um homem metódico e detalhista, especialista em rastreamento de dados e comportamento de rede. Sua missão era clara: descobrir a origem da página.

Durante dias, ele mapeou padrões, analisou logs de conexão e examinou a estrutura interna do colégio. Nada escapava: cada acesso à rede, cada solicitação DNS, cada pacote suspeito.

Foi então que ele encontrou um padrão.

Entre as dezenas de conexões analisadas, uma se repetia com frequência cirurgicamente regular. Um endereço externo, fixo. Sempre acessando nos horários em que novas postagens apareciam na página. O IP levava direto a um endereço residencial.

A casa de Lucas.

Ernani apresentou o achado à diretoria. Não era prova, apenas uma coincidência digital. Mas coincidências assim não costumam ser ignoradas.

A diretoria não agiu — ainda. Preferiu observar. Professores foram instruídos a ficar atentos. Lucas, porém, era astuto. Não precisou que ninguém dissesse nada. Bastou um olhar mais demorado, uma presença estranha no laboratório de informática, um sussurro mal abafado.

Ele entendeu.

Naquela mesma noite, Lucas ficou acordado até o sol nascer.

Usando seu próprio conjunto de scripts, montou um sistema de mascaramento de tráfego. O programa era sofisticado: cada vez que acessava a Verdade Escolar, ele desviava a conexão por túneis falsos, utilizando brechas nos dispositivos de alunos conectados ao Wi-Fi do colégio. Eles viravam escudos — sem jamais saber.

O resultado? Um rastro fragmentado, impossível de rastrear com precisão. Para cada acesso que Lucas fazia, cinco outros IPs diferentes “assinavam” a atividade. O caos digital perfeito.

Ernani notou a mudança no dia seguinte. A página, que antes revelava um ponto de origem estável, agora parecia surgir de diversos lugares ao mesmo tempo: um tablet de um aluno do 8º ano, o celular de uma garota do 2º ano, um notebook da sala de ciências.

E Lucas? Impecável. Silencioso. Invisível.

A diretoria se frustrou. Ernani declarou que o autor da página havia usado um “método avançado de spoofing” e que qualquer tentativa de rastreamento direto estava descartada. O colégio se viu forçado a recuar. Oficialmente, a investigação havia chegado a um beco sem saída.

Mas o jogo, para Lucas, estava apenas começando.

Para selar seu retorno definitivo à sombra, ele postou uma nova mensagem na Verdade Escolar:

“O problema de caçar fantasmas é que, às vezes, você acaba se assustando com o próprio reflexo.”

Foi o suficiente para reacender o medo. Os olhos, antes fixos em Lucas, agora se voltaram para todos. A dúvida voltou a reinar. As suposições se multiplicaram. Ninguém mais sabia em quem confiar.

E ninguém, absolutamente ninguém, jamais suspeitou de Lucas.

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