A noite caiu como um manto pesado sobre a cidade.
As ruas, normalmente silenciosas, estavam agora tomadas por pessoas disfarçadas, sorrisos de plástico e máscaras de todos os tipos.
Era Halloween. E a festa de Luna e Heitor prometia ser inesquecível.
A casa estava completamente transformada.
Luzes roxas e laranjas projetavam sombras dançantes nas paredes.
Música sombria preenchia o ar, intercalada por sussurros e passos ecoados pelas caixas de som escondidas.
As mesas estavam repletas de doces temáticos, drinks coloridos, pequenos bolos em forma de fantasmas e um imenso caldeirão com ponche vermelho.
— Acha que eles vão se assustar? — Luna perguntou, ajustando a máscara veneziana dourada sobre o rosto.
— Espero que sim — Heitor respondeu, vestindo uma capa preta e uma máscara prateada. — Eu programei a Alexa para liberar efeitos especiais conforme a movimentação da casa. Portas vão se abrir sozinhas, risadas vão ecoar nos cômodos, as luzes vão piscar. Vai parecer que a casa tem vida própria.
— E aqueles atores que você contratou? Eles já chegaram?
— Já estão espalhados entre os convidados. Ninguém vai saber quem é real e quem faz parte do jogo.
Luna riu, satisfeita.
Mas no fundo, aquela sensação estranha ainda a acompanhava.
O bilhete anônimo, a voz na Alexa.
Heitor jurou que não foi ele.
Os primeiros convidados começaram a chegar.
Máscaras elaboradas, vestidos sofisticados, trajes excêntricos.
Havia algo mágico — e ao mesmo tempo inquietante — em estar cercada de rostos que não podiam ser lidos.
— Bem-vindos — Luna dizia, cumprimentando cada um, tentando reconhecer vozes, posturas, algo familiar.
Mas era quase impossível.
Todos estavam cuidadosamente escondidos atrás de suas máscaras.
A casa estava cheia, mas o ar parecia mais denso.
Heitor se mantinha perto, sempre atento.
Ele observava cada detalhe: quem falava com quem, quem parecia fora do lugar.
— Eu não lembro de ter convidado aquela pessoa de máscara vermelha — Luna comentou baixinho.
— Também não lembro. Mas a essa altura, os convites se espalharam. Algumas presenças podem ter vindo… de forma espontânea.
— Ou podem ter sido convidadas por você — ela acusou, meio séria, meio brincando.
— Eu prometo, dessa vez não fui eu. Mas se for alguém que te incomoda, eu tiro da festa.
Ela sorriu.
— Relaxa, Heitor. Hoje é noite de máscaras. Um pouco de mistério é bem-vindo.
Enquanto a festa seguia, dançaram músicas sombrias, brindaram com champanhe e experimentaram todos os doces horríveis que Luna insistiu em servir.
Por volta da meia-noite, a Alexa soltou uma nova frase programada por Heitor:
— Atenção, senhores convidados. Em breve começará o jogo das máscaras. Fiquem atentos. Nem todos aqui são o que parecem ser.
Era parte da brincadeira.
Ou deveria ser.
Um leve arrepio percorreu a espinha de Luna.
Ela olhou em volta e, por um momento, achou que alguém a observava do topo da escada.
Uma figura de máscara vermelha, imóvel, quase fundida à sombra.
Quando ela chamou, a figura desapareceu.
Talvez fosse um dos atores. Talvez fosse apenas um convidado curioso. Talvez fosse nada.
— Você viu? — ela perguntou a Heitor.
— Vi quem?
— Tinha alguém ali… de máscara vermelha. Sumiu.
— Quer que eu verifique?
— Não. Vamos ver onde essa história nos leva.
Conforme a madrugada avançava, as luzes da casa começaram a falhar propositalmente, os sussurros aumentaram, e portas começaram a abrir e fechar sozinhas.
Era o caos cuidadosamente planejado.
— Está tudo sob controle? — Luna perguntou.
— Está. Mas a partir de agora… algumas coisas não são mais minhas — Heitor respondeu, enigmático.
— Como assim?
— Algumas surpresas… eu também não programei.
Ela encarou o marido, tentando entender se ele falava sério.
— Heitor, você está tentando me assustar?
— Eu estou tentando te divertir.
Mas talvez… alguém mais esteja tentando algo diferente.
Ela cruzou os braços.
— Você está de brincadeira.
— Estou? — ele respondeu, com um sorriso indecifrável.
Luna riu, mas sentiu um leve aperto no peito.
A festa seguiu com danças, encontros e mistérios.
O jogo das máscaras seria o ponto alto da noite.
Mas entre as sombras, aquela figura de máscara vermelha continuava aparecendo, sempre nos cantos, sempre fugidia.
E quando a Alexa sussurrou mais uma vez, parecia diferente.
Mais orgânico. Mais real.
— Cuidado. Nem toda máscara é segura. Nem todo convite foi seu.
Luna olhou para Heitor.
— Isso foi você, né?
— Dessa vez… juro que não.
O clima mudou.
As luzes piscaram mais forte.
A porta da biblioteca se abriu sozinha.
A festa estava só começando.
E Luna sentiu, no fundo, que algo muito além de Heitor e dos efeitos programados estava prestes a se revelar.